a flor austera
Autor: António Tê Santos on Saturday, 23 December 2017ascendo ideias sopesadas pelas circunstâncias da minha vida por onde deslizou o tormento infetando as inalações que vou redigindo.
ascendo ideias sopesadas pelas circunstâncias da minha vida por onde deslizou o tormento infetando as inalações que vou redigindo.
A estação não é a mesma estação sua
não há mais a luz pálida
dos postes de madeira nua
nem aquela tenra teimosia corada
ou esperteza meia-cura
dá até medo, pois parece
que tudo advindo é um presságio
tão rápido o agora perece
quanto um trem ágil
que do descarrilhado futuro já vem embalado
que passa por onde é passado
e vamos ensimesmados tão, tão
só vendo pela janela quimeras
há páginas cruentas em poemas redigidos por gente que sustenta um sopro suavizando a ideia de morrer; que transporta no peito uma cruz amortecendo qualquer espécie de decisão.
os dizeres fátuos em obras derivadas de conceitos levianos, as indignidades que eu soube discernir dentro das cavernas hereditárias, as reprimendas terminantes contra as habituais transfusões.
Poetizarei sem motivo ter...
Poetizar, verbo transitivo direto.
Poeta, sujeito inconveniente, indiscreto.
Poetizo sempre no presente do indicativo,
para mostrar minhas aspirações escondidas.
Poetizei e poetizava no passado imperfeito,
indicativo de que ainda começara tarde, mas cedo.
Aos meus olhos poetizara num passado perfeito,
indicativo de que tu poetizaste e resolvia a mim.
Mais que perfeito, sempre indicativo de que
poetizáramos o impoetizável, o inaudível.
Que eu poetize sempre diante do presente,