Querer-te eu Queria

Queria te querer
como quem quer nada
só por querer

um querer o outro
sem querer do outro
querendo por querer
é, mas também não quero
querer sem o outro

um querer
o outro sem querer
quero, mas não é que eu queira
querer porque quero
do outro um me querer
isso seria apenas querer que me quisesse

como quem nada quer
— na verdade verdadeira
querer-te eu queria.

Idade Adulta

Idade Adulta
 
As beatas transformaram em cigarros, inocentes tornaram prostitutas. 
O trabalho de casa morreu uma morte natural, e os telefones já são usados na sala de aula.
Cola transformou-se em vodka, e bicicletas nos automóveis.
Inocentes beijos transformaram em sexo selvagem. 
Recordar que proteger era colocar o capacete? 
Quando a pior coisa que poderia ouvir de um menino era chamar estúpido.

O Corpo sem Rima

Há luzes indóceis
na ribalta apagada
vejo ideias sem vozes
ouço súplicas hilárias
coisa nenhuma foi ensaiada
nada se improvisara
e nesse único ato
nas cortinas fechadas
na guilhotina enferrujada
reverbera alto
a atuação desmedida
de uma cabeça sem corpo
de um corpo sem rima.

A bonita Maria

A bonita Maria

Porque te sigo meu vaqueiro
se és na caatinga o Virgulino
tu és pra mim sempre o Lampião
que ilumina o céu e o meu cominho.
Minha formosura de Maria
é pouco pra tua honra e coragem
tua companhia no corpo coureiro
me faz do cangaço a rainha.
Tu não negas nenhuma laçada
Como aquela que me pegou
Como boi descansando na sombra
Debaixo do pé de umbu.
Agora te sigo mais que os Macacos
Mais que os que cercaram no Angico
Sua cabeça em todas as praças rola
Leva dentro toda minha vida.

Sem direito

Sem direito
Morreu sem direito a luto
Sem direito a velas
Sem direito a preces
Tudo isto porque morreu
Se vivo estivesse
No luto lutaria
Muitas velas acenderia
E uma prece rezaria
Mas morto está
Na memória de todos
Nas curvas da historia
No voo solitário da gaivota
Não luta mais
Não reza mais
Não voa mais
Mas pode ressuscitar
Dentro de uma garrafa cheia
De aguardente quente
De pensamento fumegante
De futuro insipiente

Diamante bruto

Diamante bruto
As lágrimas lavam na lavra
os diamantes adormecidos
que refletem o brilho escondido
dos amores esquecidos.
Ofuscante brilho
interno que não responde
ao respiro da rocha esquecida
aos suspiros das joias queridas.
E os amantes amargurados
sonolentos na madrugada
no sereno refrescam a mente
do amor doente.

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