mais
do que seria
difratado
mais
do que viria
a ser
fora de si:
apenas
uma forma
etérea
no espectro
vítreo
do tempo

ressalvo a liberdade nesta vida dissonante onde a malvadez gera amargura; onde dissolve o aroma penetrante da solidão; onde aridifica o solo poético através dos seus intentos tenebrosos.

colijo os destemperos que pratiquei para os introduzir no núcleo da minha razão e assim os poder contestar; depois relato os ferimentos que provocaram para erigir um castelo poético. 

a catarse arquiva o meu processo traumático; converte os temas habituais em assombrosas paisagens onde persistem os vislumbres da minha agudeza; onde canta o pássaro que eu libertei.

o meu universo revela tormentos e ambições que vão e vêm num marulhar constante; que motivam um límpido desvelo que origina os versos que canto; que impulsionam a minha transfiguração.

desenvolvi um ócio patológico num tributo aos alcoólatras e aos marginais; simbolizei uma estátua defeituosa numa hedionda praça; transplantei para a alma os infortúnios que entrevi.

desenrolo alegrias e sofrimentos que relevam da minha propensão para decifrar o mundo; transgrido a serventia dos homens para redigir poemas concludentes; recupero das feridas geradas pelas minhas incursões mundanas.

há dias que espero dizer

que não esmoreci-me ainda

entregue à inanição

há dias que espero uma ocasião para dizer

que a noite é uma estranha companheira

que deixa marcas e vestígios sem causa

há dias em que preciso

contar carneirinhos para dormir

-receoso da madrugada

trago na ideia o extravio da minha lucidez; os versos corrosivos que recolhi dos antagonismos humanos; as fatalidades que perfuraram o meu peito juvenil; o vigor da minha ressurgência.

um radioso futuro brota do gargalo da esperança contribuindo para o mundo que imaginei; participa nos temas que discorri; afasta o meu desamparo através de vigorosas utopias.