Quando eu me for...

Quando eu me for
 
por aí
 
desalinhado nesta plateia
 
que espreita sorrateiramente
 
entre as cortinas veladas
 
da solidão
 
saberei assim quão benevolente
 
é este abrigo onde alicerçamos
 
toda a poesia que escreveremos
 
na lápide do tempo
 
 
Quantas recordações deixámos
 

Ao Contrário

Aqui é o fim.

Que bom que consegui chegar até aqui;

Um ar puro, que provoca risos no meu pulmão.

Respiro…

Fico extasiado com a beleza!

Observo,

Veja só!

Daqui de cima, até o horizonte é mais seguro.

Que incrível…

Estou pasmo!

Como é lindo!

 

Acho que não vou suportar…

Minhas pernas se recusam a me obedecer!

Vou desabafar!

Para quê tudo isso?

Eu não preciso de tanto!

Cheguei no meio do caminho.

 

Venho andando há dias…

Acho que não vale a pena,

Subjetivo

Não, não vou ser claro!

Não quero ser objetivo.

Vou ser subjetivo

Pois é assim que eu vejo o mundo:

Um borrão cinza,

Cercado de azul

E com pintinhas verdes.

 

Não acho que ele tenha jeito!

Não acho que tenha conserto!

Aliás, alguém lembrou de perguntar

Se ele estava quebrado?

Acho que ele não vai parar

Em lugar nenhum!

Antes de eu nascer

Ele já estava por aqui

E, depois que eu morrer,

Vai continuar…

 

Não tem explicação

Anatomia Poética - Os Rins

És intrigante…

Recebes todas as injúrias,

Jogam em ti todas as sujeiras

E tu as suporta com naturalidade

E ainda consegues vazar a pureza!

 

Que coisa terrível é quando te zangas!

E quando adoeces e já não podes trabalhar, que calamidade!

Se bem que nem sei se trabalhas…

É apenas o teu jeito de ser;

Árduo, valente e tolerante.

Anatomia Poética - O Pulmão

Rochedo tremendo!

De tanto ar que te infla e te faz imponente

Tornaste o escudo perfeito para a frágil fonte da vida.

E é o que te faz orgulhoso:

Saber que guardas a vida!

 

Teu eterno esforço de reter o ar

Que te foge, posto que é etéreo

Fez-te forte. E tanto que te partiste ao meio

Para melhor suportar a responsabilidade;

E grande, visto que és o maioral entre os seus.

Anatomia Poética - O Coração

És o princípio, a gênese,

A frágil fonte da vida

Que nasce e jorra de ti a cada segundo.

Frágil sim, tanto que precisas ser bem guardado

Singelo, sensível…

 

 

Ah, sim! Sensível!

Tudo te afeta. Só tu amas,

Só tu sofres; só tu sentes.

E quando queres – e tens a mania de querer muito!

Não há força no mundo capaz de impedir-te.

Anatomia Poética - O Cérebro

Dono da minha razão,

Caixa forte dos meus tesouros.

Imenso – Pra quê? Só consigo usar um pedacinho…

Diplomata entre o meu querer, o meu poder e o meu precisar.

Tens o privilégio da fantasia;

 

És misterioso! Ninguém é capaz de conhecer teus segredos

E, por mais que queiras, és incapaz de aprender o mundo inteiro

O que é tua frustração, pois nasceste para saber tudo,

Para controlar tudo

E ser dominado apenas pelas minhas emoções.

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