Ao Cais

Ao Cais

Quase toda tarde eu vou ao cais. Pra nada, pra ver os barcos, contemplar, meditar, limpar a mente do barulho das ruas. Há tantas histórias no cais. Barcos que nunca saíram do cais, barcos que nunca voltaram. Histórias de pescadores, cheiro de peixe, maresia, barcos fantasma que rondam o cais de madrugada.

O cais é um lugar peculiar, frequentado por gente sem identidade, sem rótulo, sem amarras, sem âncoras. Compositores, escritores, músicos, poetas, marinheiros, o engravatado que comprou seu primeiro barco. Madames que morrem de medo de água e não sabem nadar, nem confiam nos coletes salva vidas.

Há uma atmosfera incrível no cais, um misto de assombroso e sereno. O cais é um lugar perfeito pra quem tem uma mente tranquila, mas tem a alma explosiva.
 

Charles Silva - Textos

 

A ESTRADA DOS VAGALUMES

A ESTRADA DOS VAGALUMES

Tu és uma prisioneira do passado
Arrastando consigo o medo equivocado
De amar e não querer romper as fronteiras
Que trancou o seu coração entre mil barreiras.

Veja os vagalumes que no escuro brilham;
Sem perceberem que suas vidas centelham
Clareando a estrada na escuridão noturna
Valorizando a felicidade como se fosse uma fortuna.

Mulher, não vais querer o meu Amor

Mulher, não vais querer o meu Amor
Pois é do meu coração uma fértil lavra
Brota laços; quando ama jamais a livra
Nele trago todo de mim e o meu pudor

Ele paciente, meigo e tradutor da dor
É do meu coração verdadeira palavra
É fonte única da minha estável fevra
É da minha bondade o singelo penhor

De más mulheres, já bebeu peçonha
Mas inda tem brilho que o sol desvia
Ele traz paz dum branco de cegonha

Pai nosso, abaixo solo já finado

Pai nosso... abaixo solo já finado,
Carrego às lágrimas desta oração,
Uma dor que abafa meu coração,
Por dizerem que foste chacinado!

Não sei se... ou... estava destinado;
Sei que duro é não ter sua atenção.
Sem ti, vivo à tamanha desolação;
Deveras, sem ti, me sinto afinado.

Àquele jazigo onde terno dormes,
Desconhecem meus pés o caminho;
Que no despertar, o meu... tomes.

Porque sem ti, dias todos definho;
Irmãos meus, a mim conformes;
À vida... faz-nos falta o seu carinho

Contra o Vento

Deixa-me correr indomável,
pelas estradas por domar,
por aquele caminho interminável,
que tanto anseia por terminar.

Da mão da sociedade corrupta,
me despego sem ela querer soltar,
da sua linearidade absoluta,
que julga que veio para ficar...

Se veio, deixo-a com um cumprimento,
e sigo o caminho tão inverso,
que só o verso o poderá eternizar.

Deixa-me seguir contra o vento,
caminhar em direcção ao fim do universo,

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