o baú das transfusões
Autor: António Tê Santos on Monday, 13 March 2023os versos que vou redigindo transparecem as náuseas duma vida dissoluta e as feridas duma vida perturbada, mas melhoram o ar que inspiro nas catacumbas dum ócio reabilitado.
os versos que vou redigindo transparecem as náuseas duma vida dissoluta e as feridas duma vida perturbada, mas melhoram o ar que inspiro nas catacumbas dum ócio reabilitado.
escorraço a tristeza para consolidar a minha autonomia; para que a paisagem do desencanto se afaste do meu ânimo; para que a tenacidade do meu pensamento se imponha às fúteis desavenças humanas.
raso é o leito do rio
com seu atraso de águas vindouras
sem lembranças ou parentescos
com suas águas passadas
sem pujanças ou contestações
com suas águas totais
pois
tal rio não possui
o endereço do oceano que o clama
(ao longo do ano)
é apenas despejo para chuvas ocasionais
é apenas desfecho para peixes honoráveis
e areias escassas
que à um rio não podem faltar
extraio da alma figurações que fragmentam a displicência e o abandono: elas têm prioridade sobre os modelos que me rodeiam e que arrebataram a minha candura; elas extinguem as máculas enrugadas que retiro da misantropia.
possuo a versatilidade do pensador que obliqua pelas intermitências das suas mágoas; que compõe uma poesia que jorra vereditos revoltados; que transporta a sua determinação pelas alamedas infindáveis da sabedoria.