Biodegradável

Biodegradável

 

O nariz trás o cheiro

Os ouvidos trazem o som

As mãos trazem marcas e cicatrizes

Os pés trazem caminhos percorridos

A boca trás diálogos, risos e beijos ardentes

Os olhos trazem imagens em movimento

O pensamento trás uma mulher

E o coração trás uma saudade biodegradável

 

Charles Silva

Jardim do Nunca

Jardim do Nunca

 

Estonteante Jardim do Nunca onde

eu em letargia de mim

grito cada verso que mordaça o íntimo.

 

Haverá sempre flores,

bocas, vogais que dormem e não calam,

novos símbolos a florescer em teu olhar,

ambos frágeis e cintilantes.

 

Jardim perdido em fogo,

arde sobre mim sobre ti em mim,

orvalho de cinzas em línguas de sílabas

flutuam desamparadas entre esquecer e falar.

 

Escrevo-me por paixões,

sopro em desespero vendavais internos,

Guepardos tristes

Choro de alvorada silva grito da manhã
É o que faz do homem um poeta
Posto na tecla macia de quem sob o coito falaz da montanha
Descansa junto aos brejos brancos do descuido.

Pus nos motores dos carros bravios em asfaltos negros,
Membros maus na cobiça do ego,
Os pés sangram as botas
Há quem o viu assim.
Vinho, dor, cópula e um ano quase natal...
Evoé!

O Tempo determinante

O Tempo determinante

 

Escondida nas muralhas do tempo

espero o tempo determinante

num determinado tempo.

 

Tempos que não voltam

são tempos esquecidos,

são tempos que o vazio recusa

e municia-se de tempo presente.

 

Este é o meu tempo,

o tempo que recuperei dos

vinte e dois anos que rompi.

Este é o meu tempo,

tempo que determina quem eu sou

e em que tempo estou.

 

Este é o tempo que determino,

o tempo determinante.

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