Você

Você é o engulho que me dá

quando passo pelo mar.

Você é o engasgar que me acomete

quando como apressado.

Você é o tropeção que me surpreende

quando ando sem cuidado.

Você é a topada no pé que me dói

quando esqueço de olhar para baixo.

Você é a mosca na sopa que cai

quando estou a saboreá-la.

 

Você é a quimera das dores

que se esgarça

por entre as minhas pernas

no meu pênis.

Você é o meu chafurdar na lama

de porcos doentes no quintal.

 

Você é a fábula  de nomes

Solestício de verão

Acordo ao amanhecer
Com o chilrear dos passarinhos
Luzes ainda acesas
Com um céu num tom de incerteza
Meio escuro
Dia
De certeza
Tom alaranjado no horizonte
Sinal de calor
Vindo do seu interior
Lindas cores tu tens
Todas as manhãs és diferente
Deslumbras
Com tua beleza
Terror
Teu poder
Querer
Com tuas armas silenciosas
Matas com teu calor
Sem dó
Piedade
Quem se atravessa no teu caminho
Ficará sem destino
Rumo destroçado
Com cheiro a queimado

Vontades ou Ócios

É raro ter força de vontade
No cumprimento de minhas metas,
Nunca tive a pró-actividade
Nem a austeridade dos ascetas.

Mas que bom é, que bem sabe
Fazer o jeito aos caprichos,
Ob'decer cego à vontade,
No néscio jeito de bichos!

Ter que levantar da cama
Sem vontade de fazer nada
E o ocioso leito chama:
"Fica um pouco mais deitada!"

Ai! o prazer que o corpo sofre
Ao deixar estar entre os lençóis...
Deixa estar o dever no cofre
Qu'eu cá estou entre sete sóis!

Reminiscências

 

Reminiscências

Às vezes eu vago em exacerbadas reminiscências, lembro-me de outrora quando tudo era mais simplório e singelo.

Recordo-me de dias tão bons que só a recordação faz meu coração feliz, tais elucubrações enleiam-me...

Fico embevecido quando eu me lembro de tempos pretéritos... Cheguei até ao axioma que tudo mudou quando eu conheci um alguém...

Esse alguém é deveras indubitavelmente a pessoa que mais amei em toda a minha vida, gostaria de evidenciar o seu nome, mas, não o vou... Não posso!

FELIZ MAIOR IDADE

Adquiri a maioridade aos dezoito anos,

Cheio de esperanças e coloridos sonhos,

Assumi a maior idade aos 60 e poucos,

Inflado, ainda, de numerosos planos.

 

Preciso, agora, curtir a melhor idade,

Que vai de hoje até Deus é quem sabe,

Talvez 80, 90, cento e tantos anos,

Ou - acredito nisso - ela nunca se acabe.

 

Porque a vida não se extingue aqui,

Ela segue fluindo em outra dimensão,

Conecta-se ao universo, a um ser superior,

E nos faz eternos, convergindo para a perfeição.

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