SOU

 

 

 

 

Sou tempestade de areia
Que no deserto se agita
Sou a voz que não se ouve
Mas que fala, mas que grita

Sou a voz da consciência
Que acorda moribundos
Sou a luz da minha sombra
Que brilha entre dois mundos

Sou a outra parte de mim
Que há muito de mim fugiu
Sou o eu, que em mim habita
Que nunca de mim saiu

Sou a árvore que renasce
Da raiz da minha morte
Sou a força da inércia
Que dá outro rumo ao norte

Um Pouco de Tudo

 

Tudo para cada um,

Um pouco para todos

Dividir, compartilhar, desfazer-se...

 

Fazer, pouco a pouco,

Tudo novamente.

 

Todo mundo é derivado

De cada um

E cada um faz o mundo

Que é de todos;

Quem trabalha faz o mundo

De quem emprega que paga o mundo

De quem trabalha.

 

Nada para alguém é tudo

Para ninguém, um pouco

Para todos, tudo

Para cada um.

 

Somar, reter para si, refazer

Pouco a pouco

Tudo novamente.

Rodrigo Dias

Um Poeta

 

Um poeta não fala de amor, fala do vento.

Não fala de dor, fala da chuva.

Não fala do medo, fala do frio.

Um poeta não fala.

Respira, sussurra...

 

Um poeta não tem alegria, não chora.

Um poeta não sente depressão, não sente.

Um poeta não fala a verdade, não mente.

Um poeta não fala...

 

Um poeta não tem palavras, tem gestos.

Não tem história, tem contos.

Não tem vírgulas, tem pontos.

Não pergunta, exclama.

Não lê, declama...

 

Um poeta não declara, supõe.

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