*A TORTURA DAS CHIMERAS*

Les édifices eloquentes...
     Balzac

Quantas vezes, nas noutes pluviosas,
Ou nas limpidas noutes estrelladas,
Como espectros de espinhos e de rosas--
Erguem-se em nós as cousas apagadas!

Que vezes, n'esta vida positiva,
--N'esta comedia lugubre moderna--
Se eleva a outra esphera nobre e viva
Nossa alma mais poetica, mais terna!

Os contornos das cousas despresadas,
Um fundo triste, um muro, umas ruinas
Um mosteiro, um luar--nas almas finas
São como umas celestes madrugadas.

A' Illustrissima, e Excelentissima Senhora Dona Catharina Micaella de Souza...

_A' Illustrissima, e Excelentissima Senhora Dona Catharina Micaella de
Souza, tendo o Illustrissimo, e Excellentissimo Senhor Luiz Pinto de
Souza expedido Avizo para se imprimirem as Obras do Author na Officina
Regia_.

CARTA.

Senhora, Apollo bem sabe
Que sois digna companhia
De quem em doirados annos
Lhe honrava a doce Poezia;

Inda de viçozo loiro
Lhe guarda a verde coroa;
Fez-lhe falta em sua Corte,
Mas a bem de outra o perdoa;

Perda...

Perda....*

Tão rápida.Tão inusitada...

Que a perda se torna surpresa

Sem amenizar a dor que vem com certeza .

 

Calada em meio as brumas da noite 

Nos caminhos errantes de um  viver distante

Fico isolada vendo o partir inconstante 

 

Sem urgência, me levanto ...

Observo o horizonte adormecido

No qual, o Sol deveria ressurgir no calor do meu pranto.

 

Sem demora...Agora!

Que a perda já não é  surpresa

Entro na noite silenciosa...

Com o gosto amargo da minha tristeza.

IN PROMPTUM PASTORAL

_A Amadeu de Freitas_

«Muito vence quem se vence
Muito diz quem não diz tudo,
Porque a um discreto pertence
A tempo fazer-se mudo.»

(_Copla do Infante D. Luiz_.)

Sob este céu creador
De manhã vergiliana,
Apetece ser pastor
E tocar frauta de cana;

Não, pastor d'autos d'amor,
D'eclogas frias e velhas,
Mas verdadeiro pastor
De verdadeiras ovelhas...

Não conhecer o talento
Nem nada do que se ensina.
Esta dôr do entendimento
É peor do que se imagina...

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