O poeta faz-se vidente através de um longo...
Autor: Rimbaud on Sunday, 11 November 2012O poeta faz-se vidente através de um longo, imenso e sensato desregramento de todos os sentidos.
O poeta faz-se vidente através de um longo, imenso e sensato desregramento de todos os sentidos.
Bem sei, Amor, que é certo o que receio;
	Mas tu, porque com isso mais te apuras,
	De manhoso, mo negas, e mo juras
	Nesse teu arco de ouro; e eu te creio.
	A mão tenho metida no meu seio,
	E não vejo os meus danos às escuras;
	Porém porfias tanto e me asseguras,
	Que me digo que minto, e que me enleio.
	Nem somente consinto neste engano,
	Mas inda to agradeço, e a mim me nego
	Tudo o que vejo e sinto de meu dano.
O ledo passarinho, que gorjeia
	D'alma exprimindo a cândida ternura;
	O rio transparente, que murmura,
	E por entre pedrinhas serpenteia;
	O Sol, que o céu diáfano passeia,
	A Lua, que lhe deve a formosura,
	O sorriso da Aurora, alegre e pura,
	A rosa, que entre os Zéfiros ondeia;
	A serena, amorosa Primavera,
	O doce autor das glórias que consigo,
	A Deusa das paixões e de Citera;
	Quanto digo, meu bem, quanto não digo,
	Tudo em tua presença degenera.
	Nada se pode comparar contigo.
Este querer-te bem sem me quereres,
	Este sofrer por ti constantemente,
	Andar atrás de ti sem tu me veres
	Faria piedade a toda a gente.
	Mesmo a beijar-me a tua boca mente...
	Quantos sangrentos beijos de mulheres
	Pousa na minha a tua boca ardente,
	E quanto engano nos seus vãos dizeres!...
	Mas que me importa a mim que me não queiras,
	Se esta pena, esta dor, estas canseiras,
	Este mísero pungir, árduo e profundo,
Se há no mundo alguma coisa mais irritante do que sermos alguém de quem se fala, é ninguém falar de nós.
Há duas tragédias na vida: uma a de não satisfazermos os nossos desejos, a outra a de os satisfazermos.
Sorriso audível das folhas
				Não és mais que a brisa ali
				Se eu te olho e tu me olhas,
				Quem primeiro é que sorri?
				O primeiro a sorrir ri.
Ri e olha de repente
				Para fins de não olhar
				Para onde nas folhas sente
				O som do vento a passar
				Tudo é vento e disfarçar.
Tenho tanto sentimento
				Que é frequente persuadir-me
				De que sou sentimental,
				Mas reconheço, ao medir-me,
				Que tudo isso é pensamento,
				Que não senti afinal.
Temos, todos que vivemos,
				Uma vida que é vivida
				E outra vida que é pensada,
				E a única vida que temos
				É essa que é dividida
				Entre a verdadeira e a errada.
Toda a gente é capaz de sentir os sofrimentos de um amigo. Ver com agrado os seus êxitos exige uma natureza muito delicada.
Se soubéssemos quantas e quantas vezes as nossas palavras são mal interpretadas, haveria muito mais silêncio neste mundo.