ADEUS AO MUNDO

Mundo sombrio e breve de dores infindas,
Onde cantar não posso os meus vindoiros planos,
Deixa-me ser poeta em teus escuros vales...
Ter no peito a luz que se oculta dos humanos!

Farto sei que estou de buscar a mesma nota,
Falta-me nos lábios a tua melodia,
Que fôlego me dê nesta procura intensa
De algum portento achar nos escombros do dia.

O sol é um soberano que escravos nos torna,
Pérfido, de forma sanhuda vocifera!
Já a lua é uma mãe que sopra-nos o descanso,
Trazendo no olhar o afago da primavera.

Oh! Deixa-me mundanas vibrações do tempo,
Sinos vetustos que se alentam do medo,
Sonhar no leito calmo dos montes silentes,
Onde as broncas ondas não ferem o penedo.

Quero poder libar o lume destes astros
E afogar meus passos no prodígio dos cantos,
E respirar o amor tão puro e cintilante,
Como no amanhecer estes doridos prantos.

Leva-me loucura a teus palácios insólitos,
Ao átrio confuso mui pouco visitado!
Jamais terei queixumes na vida sem rastros,
Quando feliz herdar teu encanto ignorado.

Ou leva-me senhora que vaga p`los mares
Numa barca fria como as lajes e o inverno,
A prometer melhores canções que as de agora,
Vertendo sobre mim o teu amor materno!

Hei de tocar teu seio co`a gélida face,
Beber em tua taça o sono mais profundo.
Que seja minha amante a pálida viúva,
A qual odeia a vida, como odeio o mundo!

E sem demora espero repoisar contente
Numa longínqua quadra, onde etéreo serei,
Colher na áurea natura o meu alento raro,
Sorrir decerto o léu, pois faz assim um rei!

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