CANÇÃO
Autor: Soares de Passos on Tuesday, 13 November 2012
Que noite d'encanto! Que lucido manto! Que noite! amo tanto Seu mudo fulgor! Oh! vem, ó donzella; Não temas, ó bella, Que á noite só vela Quem sonha d'amor. A luz infinita Dos astros, crepita, Arqueja e palpita, Serena a brilhar: Assim o teu seio, De casto receio, De timido enleio, Costuma pulsar. A lua, qual chamma, Que os seios inflamma, Fanal de quem ama, Desponta no céo; E a nitida fronte Retrata na fonte, E estende no monte Seu candido véo. E a fonte murmura Por entre a verdura, E ao longe d'altura Lá desce a gemer: Que sons, que folguedos! Parece aos rochedos Dizer mil segredos D'infindo prazer. Silencio! o trinado Lá solta enlevado, Das noites o amado, Da selva o cantor; E o hymno que entôa No bosque resôa, E ao longe revôa Gemendo d'amor. O facho da lua Co'a sombra fluctua, Avança e recua No chão do jardim; Nas azas da aragem, Que agita a folhagem, Recende a bafagem Da rosa e jasmin. Que noite d'encanto! Que lucido manto! Que noite! amo tanto Seu mudo fulgor! Oh! vem, ó donzella; Não temas, ó bella, Que á noite só vela Quem sonha d'amor.
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