CANÇÃO

 

Que noite d'encanto!
Que lucido manto!
Que noite! amo tanto
Seu mudo fulgor!
Oh! vem, ó donzella;
Não temas, ó bella,
Que á noite só vela
Quem sonha d'amor.


A luz infinita
Dos astros, crepita,
Arqueja e palpita,
Serena a brilhar:
Assim o teu seio,
De casto receio,
De timido enleio,
Costuma pulsar.


A lua, qual chamma,
Que os seios inflamma,
Fanal de quem ama,
Desponta no céo;
E a nitida fronte
Retrata na fonte,
E estende no monte
Seu candido véo.


E a fonte murmura
Por entre a verdura,
E ao longe d'altura
Lá desce a gemer:
Que sons, que folguedos!
Parece aos rochedos
Dizer mil segredos
D'infindo prazer.


Silencio! o trinado
Lá solta enlevado,
Das noites o amado,
Da selva o cantor;
E o hymno que entôa
No bosque resôa,
E ao longe revôa
Gemendo d'amor.


O facho da lua
Co'a sombra fluctua,
Avança e recua
No chão do jardim;
Nas azas da aragem,
Que agita a folhagem,
Recende a bafagem
Da rosa e jasmin.


Que noite d'encanto!
Que lucido manto!
Que noite! amo tanto
Seu mudo fulgor!
Oh! vem, ó donzella;
Não temas, ó bella,
Que á noite só vela
Quem sonha d'amor.
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