Defunto

Brando este sono e me abraço
Em meu corpo defunto e me desfaço,
Em mil terras, larvas, e coisas parvas...
É meu sono profundo, e meu resto é teu mundo.

Baloiço que é vida
Sobe, desce e que cresce.
Curva de sina - linha sentida;
Saltam-me os pés, camarada,

Saltam-me, e de mim saem.
Descobrem desertos e ventos de marés,
Desenham-me em vida, porém
Apenas eu sou, porque tu és.

E o corpo me queda...
Num silêncio acrescento
E não sei se me aguento
Neste sono que é seda.

Larvas me comeram e eu não sei
Se é deste escuro sorridente
Vivo, se morrerei demente;
Se ainda durmo, ou se acordei...

E que murmúrio escuto?
E que silêncio bruto!
E por baixo de terras danço
E por cima de mim dancem.

Cubram-me de terra e cantem;
Assim serei repouso e eu descanso;
Assim estarei vivo de morte; e
Assim foi minha sorte!

Restar-me-à poder tudo o que não sou;
Resta-me-à ir para onde vou...
Neste tempo, porque chove,
Com este vento, porque já me ouve

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