desabafo...

Conheci a rima na ponta de uma caneta

Já não sei se vermelha, azul ou preta,

Mas tão leve como uma borboleta…

Da pequena esfera fluía.

Fugaz e ligeira me escorregava,

A rima solta na tinta que entornava,

E que livre se formava…

No papel onde caía.

 

Até que “vagabundeando” por aí…

Poemas de merda me gritam,

Com versos cheios de nada.

Frases compridas que de tão ocas se agitam,

Repletas de palavras vazias em boca desfraldada.

Pétalas coloridas em flores sem cheiro.

Suaves melodias em noite de trovoadas.

Natal de abeto, em vez de pinheiro,

Bocas tão cheias de tudo…

E da Vida?! …

Caladas.

Almas perfeitas, opadas do Dom

Das artes do Belo que ao Feio não cedem

Tão arrumadas… certinhas, na forma e no tom;

Que viver a vida vivendo…

É o que mais temem.

 

E por muito que lhe ponham palavras bonitas,

São-lhes as quadras… formas na rima feridas,

De vulgaridade cinzenta e plural.

Que importa o arcaísmo erudito?!...

Se não dá traço de cor, ao que está escrito;

E o sentido lhe peca, por frugal.

 

E eu velho sobrevivente de um passado sem glória

Sigo náufrago pelos rios da memória,

À deriva para onde o vento me levar…

 

Perdi-me há muito nas brumas da minha história.

E hoje resta-me a esperança, talvez que ilusória,

De quem sabe um dia…

Possa a glória me achar.

 

 

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