DESCALÇA!
Quem és, que ao vêr-te o coração suspira,
E em puro amor desfaz-se!
Raio crepuscular do sol que nasce,
De lampada que expira!
Como os teus pés são lindos! como é dôce
A curva do teu peito!
Oh! se o meu coração fosse o teu leito,
E o teu amado eu fosse!
Que preciosas perolas descobre
Teu meigo humido labio!
E, virgem! como Deus foi justo e sabio
Em te fazer tão pobre!
Não tens fofo velludo onde se atole
Tua angelica imagem;
Mas quando é bello o céo, bella a paizagem
E quando é bello o sol?
Limpo de nuvens, nú, derrete a neve
E a aguia até desmaia.
Tu não tens mais do que uma pobre saia,
E essa, curtinha e leve.
Onde o corpo te alteia, a saia avulta;
Onde te abaixa, desce...
És como a rosa! A rosa nasce e cresce,
Não para estar occulta.
O que te falta pois? os teus desejos
Quaes são? de que precisas?
Ah! não ser eu o marmore que pisas...
Calçava-te de beijos!
Coimbra.