Em vigília

Quis sentir
 
o gosto apaladado
 
nesse teu jeito voluntário
 
com que me embriagas espontânea
 
tão plena e solidária
 
 
Quis repartir
 
dois tempos de mim
 
em breves momentos em que
 
me cinjo aleatório aos teus
 
mágicos sorrisos
 
que me ofertas
 
em pedaços solitários de amor
 
enfeitados ,recíprocos
 
renovados a cada desertora
 
manhã que cresce em nós
 
 
Quis silenciar
 
em vigílias nossas dispersas
 
tréguas
 
convidar-te a renascer comigo
 
na prontidão ferida onde
 
o luar deságua límpido de trevas
 
excitando meus carinhos
 
esculpidos a régua e esquadro
 
como relâmpagos fulgurantes
 
de queixumes emocionados
 
 
Escondi-me da luz sedutora
 
expressiva e tão calma
 
que se estende contemplando
 
apelativa este recôndito
 
exílio onde esculpimos nossa
 
derradeira história
 
embriagada pelo decote do tempo
 
por quem nesse teu jeito
 
de segredo em segredo
 
hoje me acossa a vida conciliadora
 
peremptória em brados e folguedos
 
 
Quis sonhar
 
sem ali esperar tua presença
 
aguardando imperceptível
 
qualquer  resíduo
 
alusivo ao teu ser
 
sair por aí
 
procurar-te obsessivo
 
até desnudar-se a noite lúdica
 
que se espraia continuamente
 
em ti
 
 
Voltaria ao mesmo local
 
onde deixei inóspitos
 
beijos declarados a ti
 
tragaria todo o tempo
 
só para te doar minha
 
declaração de presumível inocência
 
afinadamente comovida
 
em tons suaves
 
de poesia assim imortalizada
 
e seduzida
 
 
Escutaria o canto
 
selectivo dos ventos
 
só pra me embriagar
 
de ti
 
Revolveria todos os vazios
 
que me deixaste
 
só pra te encher de
 
vida novamente
 
e jamais trocaria quaisquer
 
actos  de assomada alegria
 
subserviente ou até
 
casualmente resignada
 
por tristezas cativas
 
melancolicamente diluídas
 
em platónicos desejos
 
eu sei
 
às vezes tão egoístas
 
 
O que não existe
 
mais
 
tentarei decifrar-te
 
com precisão que minhas
 
ânsias sepultam
 
a cada entrega apaixonante
 
ilimitada
 
onde sossegamos tantas vagas
 
do nosso mar
 
em vigílias divertidas
 
pacientes, irremediavelmente
 
de ti
 
emergindo esplêndida e aturdida
 
FC
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Comentários

Gostei e muito! 

A poesia é sempre bem vinda!

Abraços poéticos!

Como no mar não conseguimos adivinhar a onda que vem a seguir, mas temos essa ânsia de a conhecer, no amor também as suas vicissitudes fazem ansiar. Ansiar apaixoná-lo. 

Parabéns, adorei o seu poema.

Cumprimentos