ENCONTRO DOS ANTIGOS ALUNOS DA ESCOLA APOSTÓLICA DE CRISTO REI EM GOUVEIA

ENCONTRO DOS ANTIGOS ALUNOS DA ESCOLA APOSTÓLICA DE CRISTO REI EM GOUVEIA

No último sábado do mês de Junho, todos os anos acontece na mesma data em Gouveia, deu-se o Encontro dos Amigos Alunos da Escola Apostólica de Cristo Rei.

Num Encontro bem organizado, disciplinado, aberto e com total clareza, realçou-se a amizade, o timbre desta Associação que os elementos aprenderam nos anos de frequência desta Escola Apostólica.

Na sessão de abertura da Reunião geral, o Presidente da Associação, António Machado, deu as boas vindas e afirmou: “hoje é um dia especial, um dia cheio de emoções. Neste 33º Encontro, neste espaço tão familiar, queremos celebrar cinco gestos: o gesto da proximidade, o gesto da ternura, o gesto da delicadeza, o gesto da amizade, o gesto da gratidão. Queremos que estes gestos não continuem em queda na bolsa das nossas interacções humanas. Queremos transformá-los em hinos de acção de graças. É o que a todos pedido, enquanto Antigos Alunos desta Casa”.

Salientou os dois grandes eventos anuais da Associação: este Encontro Anual e a participação Popular do Cantar das Janeiras na Cidade de Gouveia, com muito êxito e uma equipa já numerosa de participantes.

A seguir, o Tesoureiro apresentou as contas, afixadas para consulta de todos os interessados.

As folhas de Excel do exercício contabilístico ao longo dos anos foram explicadas e esclarecidas. Não se verificou uma única dúvida, dada a forma transparente como estavam organizadas.

A Direcção da Associação entendeu, e bem, que três gerações de alunos dessem o seu testemunho e descerrassem uma lápide, junto à porta da Capela, de Homenagem aos Missionários de S. João Batista.

O Presidente da Associação fez a apresentação do depoente António Alves Fernandes: “aluno entre os anos 1958 e 1966, natural da Bismula(Sabugal), Tenente Miliciano, Empregado de Escritório, Professor e Director de Estabelecimento Prisional, publicou um livro, e escreve crónicas para jornais e revistas, dando ênfase à História das Pessoas, à sua Cultura e às Tradições”.

Tomei a palavra e referi que a minha vinda para esta Casa se deve ao Dr. Aureliano Dias Gonçalves, após encontro nas Termas do Cró. Findo o exame de admissão, em Outubro, de pé em cima de um burro, com duas sacas de serapilheira com roupa bem arrumadinha pela minha Mãe, apanhei o comboio na Cerdeira do Côa até à cidade da Guarda. Ali esperei uma infinidade de tempo e, no Café Mondego, vi pela primeira vez a televisão, desenhos animados… Na Adega Regional comi um prato de feijão, uma dobrada, e o meu tio do Talho Martinho deu-me uns enchidos.

Chegado a Gouveia nos Transportes Hermínios, subimos para encontrar o Monte Farvão, onde estava instalada a Escola Apostólica. Quando ali cheguei, ainda o edifício cheirava a tintas. O Padre Alberto Brojo, Pároco das Aldeias (Gouveia), recebeu-me, deu-me as boas vindas e alimento. Pela primeira vez tive luz eléctrica, comi manteiga (Margarina Chefe, muito deliciosa com pão caseiro) e beneficiei de água canalizada para higiene pessoal

As nossas roupas eram pobres e rotas. O Irmão Norberto entregou aos mais necessitados roupas e sapatos para andarmos com dignidade. Eu fui um dos muitos beneficiados.

Não pagávamos livros e tínhamos grandes mestres, grandes professores: Dr. Rito, Dr. João Castro Nunes, Padre José Coelho, Padre João Lopes, Padre Nagel e tantos outros.

Pela primeira vez, vesti um equipamento de ginástica, oriundo da Alemanha, calções verdes, camisas e meias e sapatilhas brancas, para o exercício de Educação Física.

No segundo ano reprovei e os meus pais deram-me um prémio: em vez de férias no Verão, obrigaram-me a trabalhar na vida dura do campo. Lição dada e nunca mais esquecida: não voltei a reprovar. Recordei as Irmãs Religiosas, que nos faziam a comida, lavavam e remendavam as nossas roupas, e ainda as nossas enfermeiras. Eram as nossas MÃES.

Licénio Prata, natural de Videmonte  (Guarda), frequentou a Escola Apostólica entre os anos de 1969 e 1972. Foi Professor Primário, Presidente de várias administrações na Banca, Seguros, Misericórdias e Caixa Agrícola. É conferencista em temáticas ligadas à agricultura, floresta, banca e seguros com vários textos sobre estas matérias. É actualmente Presidente da Administração da Caixa Agrícola Mútuo da Serra da Estrela.

O seu depoimento referiu a sua chegada a Gouveia no tractor do pai, estacionado em frente à Câmara Municipal. Ali foram saber onde se encontrava a Escola Apostólica e receberam os azimutes para chegarem junto do monte do Farvão. Fez exame de admissão e ali se manteve quatro anos.

Aqui aprendeu o respeito, a disciplina, o compromisso de horários, um programa de vida… Todos os espaços de tempo tinham ocupação. Todos estávamos ocupados, com estudo, aulas, culto, cultura, desporto e lazer.

O último antigo aluno, Luís Tomé, natural de Dornelas, Aguiar da Beira, frequentou a Escola entre 1982 e 1988. É licenciado em Relações Internacionais, pela Universidade Autónoma de Lisboa, onde coordena o Doutoramento em Relações Internacionais, Geopolítica e Geoeconomia. É Mestre em Estratégia pelo ISCSP, actual Universidade Técnica de Lisboa, e Doutorado em Relações Internacionais pela Faculdade de Economia de Coimbra. Findo o seu perfil, sublinhou que os valores que aqui lhe ensinaram e aprendeu os aplica na vida diária. Nunca esqueceu a palavra humanidade, ser humano. Nos tempos que correm com as migrações forçadas, de fugas à guerra e à fome, é bom pensar no ser humano, aplicar o humanismo à situação actual, consubstanciado com valores cristãos.

O Padre José Cristino salientou que na declaração da aprovação da Escola Apostólica de Cristo Rei, dos Missionários de São João Batista, consta que na direcção completa está o Reitor, assistido por um Leigo, o que revela a importância dada a pessoas não consagradas. Há muitos, muitos anos. Também o nome de Apostólica é muito vasto, muito amplo e muito actual, na formação de pessoas empenhadas nos serviços da Igreja.

O Padre Jacob encerrou a Assembleia Geral, destacando os desafios que a Escola Apostólica de Cristo Rei enfrenta, cada vez com mais exigências, anos e anos a aguardar soluções de alvarás, de licenças, para utilização de diversos serviços, na agropecuária familiar… Debate-se com atrasos nos pagamentos do Instituto de Gouveia (Escola Profissional).

Seguiu-se a Eucaristia, presidida pelos Padre José Cristino, Padre Jacob, Padre José Coelho (95 anos de vida dedicada à Pastoral Diocesana, Professor durante 25 anos nesta Casa), e o antigo aluno, Padre Humberto Coelho, pároco na Arquidiocese de Évora.

O Grupo Coral, acompanhado por cento e cinquenta vozes, cantou: “vem irmão construir a tua cidade/Faz do teu sonho hoje realidade/Vem despertar amor, sem ele não és nada/Vem desenhar o além e a primavera/Não te deixes dormir em outras eiras/Porque não vais para a rua vender primaveras/Mesmo que tu não queiras, tua pátria é o mundo/O teu irmão são todos, és vagabundo.”

No final, atrás do Grupo Coral, saindo da Capela, entoavam: “eu irei, falarei a todos os que esperam receber o teu povo/Eu irei levar essa chama que iluminará o mundo/Eu irei anunciar a Paz e o Amor Eterno do Senhor/Eu irei e serei feliz de trazer os Homens ao Senhor.”

Foi descerrada uma lápide, oferta da Associação dos Antigos Alunos da Escola Apostólica de Cristo Rei: “Só salvarei almas se praticar a Caridade” Padre João Maria Waw. Associação dos Antigos Alunos da Escola Apostólica de Cristo Rei aos Missionários de S. João Batista, pela presença tão intensa e significativa nas nossas vidas e na cidade de Gouveia. A nossa gratidão e um favo de ternura – XXXIII -Encontro – 30/6/2018.”

Nesta cerimónia, um poema escrito no Livro “Manhã de Outono”, de José Alberto Damas, do Cerejo (Pinhel), foi lido por Adriano José da Silva de Alverca da Beira (Pinhel). O autor ofertou diversos livros, cujas receitas foram entregues à Escola Apostólica de Cristo Rei.

No Estádio Municipal de Gouveia, em relva natural, defrontaram-se duas equipas de antigos alunos. Os azuis foram copiosamente derrotados (8-4) pelos laranjas. Uma goleada à moda antiga. O meu irmão João Alves Fernandes, natural da Bismula (Sabugal) e ex-aluno, marcou seis golos.

Na amostra gastronómica da Serra da Estrela, no almoço e lanche, contou-se com a generosidade dos Antigos Alunos: queijos de Lacticôa e da Queijaria Tavares, enchidos, doces, presuntos e a célebre sardinha de Trancoso (da Casa Prisca), produtos de excelência internacional, aos quais podemos acrescentar os Vinhos da Região de Pegões, de Palmela, da Torre de Agualva, de Arcozelo, o pão da Padaria Mondego de Vinhó e as Cerejas de Aldeia de Joanes e da Enxabarda (Fundão).

À despedida, fortes e apertados abraços e um desejo de presença no dia 29 de Junho de 2019.

 

António Alves Fernandes

Aldeia de Joanes

Julho/2018

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