A Escriptura Sagrada
A Escriptura Sagrada
Lá diz que uma mulher má
Não ha fera, não ha nada
Peor no mundo: e não ha.
Uma lá da minha aldeia,
Que era muito impertinente,
Muito má (e muito feia)
Morre um dia de repente.
Morreu; desgraçadamente
Mais tarde do que devia;
Mas em summa toda a gente
Teve a maior alegria.
Passados annos (é boa!)
Foi-lhe preciso ao coveiro
Abrir a cova, e achou-a
Ainda de corpo inteiro,
Ainda rosas na face,
Ainda signaes de vida...
Milagre! coisa sabida;
Pois mais fresca que uma alface
Ha tanto tempo enterrada,
Devendo estar reduzida
A pó, terra, cinza e nada...
Vem dar parte; e corre a vêl-a
O povo atraz do prior;
E passam logo a trazel-a
Em cima do seu andor
E a pol-a n'uma capella
De grande veneração;
(Elles ás costas com ella,
E elle a cantar canto-chão;)
Mas seja lá o que fôr,
O que é certo e mais que certo
É que santa como aquella
E nem de mais devoção,
Não ha por alli tão perto.
E dizem que não ha santos
Como nos tempos passados!
E cá opinião minha
Que muitos (quantos e quantos!)
Que ahi morrem desprezados,
Se não são canonisados
É que está cheia a _Folhinha_.
Messines.