espasmos epidémicos passados

14 de Março de 2020

Entre suspiros ofegantes, de quem sente na pele a responsabilidade de se manter a si e aos outros sãos, surgem em mim surtos que tento disfarçar para nao amedrontar ninguém. Cruzo olhares com o meu marido, na esperança de que tudo isto seja um mero filme de ficção científica do qual precisamos acordar urgentemente. Falta-me o ar!

De cada vez que fazemos zapping, quase em segredo, vêmos uma menina de 5 anos, a nossa menina, estática a tentar perceber o que está a acontecer. Calada, observa tudo. Como posso explicar a uma menina de 5 anos que os abraços e os beijos e as trincas dos chocolates que partilhávamos sao agora racionados e comedidos? Como posso explicar q as mãos que alimentam e acarinham sao agora nossas inimigas e q na boca nos olhos e no nariz nao se toca? Nós explicamos, ela entende e faz tudo, meu amor!
Sempre que se entra em casa, e isto ja vem de ha algum tempo, descalçamo nos. Mas agora, além de retirar os sapatos também tiramos a roupa da rua e vestimos outra lavada. desinfectamos as maos já irritadas e ásperas de tanta luta contra o inimigo invisível.
Só não dá para desinfectar a alma, haverá algum balsamo que desinfecte a mente ja doente de tanto medo?

 

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