FLÔR E BORBOLETA

Tu vôas, borboleta! e que eu não possa
              Voar, amor!
    Diversa como é n'isto sorte nossa!
              Dizia a flôr.

    No valle, ambas irmãs, nascidas fomos;
              És como eu sou;
    E amamo-nos, e flôres ambas somos,
              Mas eu não vôo.

    A ti leva-te o ar; prende-me a terra
              A mim; e eu
    Como hei-de perfumar-te em valle e serra,
              E lá no céo!...

    Mais longe inda tu vás, por outras flôres...
              Girar, talvez,
    Em quanto a minha sombra, meus amores!
              Gira a meus pés!

    E vens-me vêr depois, mas vaes-te embora,
              Sabendo, assim,
    Que em lagrimas me encontra sempre a aurora!
              Pobre de mim!

    Acabem-se estas mágoas, meu thesoiro
              E meu amor!
    Cria raiz ou dá-me as azas de oiro,
              Celeste flôr!

                                        V. HUGO.

Coimbra.

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