FORA DO TEMPO
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<p>Os sinos dobravam por sua mãe,</p>
<p>mártir dos fogos de Verão,</p>
<p>mas ele fazia o seu luto,</p>
<p>enlaçado na mulher,</p>
<p>rezando um ámen erótico e carnal.</p>
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<p>Lá fora as ambulâncias silvavam</p>
<p>a caminho da mata incandescente,</p>
<p>mas nenhum grito,</p>
<p>por mais lancinante</p>
<p>faria esmorecer aquela dança sensual.</p>
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<p>Na mata um velho gritava:</p>
<p>- Fujam, que vamos ser engolidos!</p>
<p>Mas eles permaneceram unidos</p>
<p>como rodas dentadas,</p>
<p>lábios crispados, e ntumescidos...</p>
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<p>No quarto ao lado o filho</p>
<p>chorava com medo do fumo,</p>
<p>mas eles continuaram enlaçados</p>
<p>e as estocadas dele dentro dela</p>
<p>abafavam todos os gritos.</p>
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<p>As chamas crepitavam na mata</p>
<p>e já lambiam a janela,</p>
<p>mas o fulgor das labaredas</p>
<p>não ofuscava o brilho faminto</p>
<p>que havia nos olhos dela.</p>
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<p>Chegados, enfim, ao monte Sinai,</p>
<p>celebraram o desejo maduro</p>
<p>sem que nada perturbasse</p>
<p>ou interrompesse o seu tropel,</p>
<p>pois tinham saído do tempo</p>
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<p>Entre rugidos e sons guturais</p>
<p>o estertor dos corpos e, depois,</p>
<p>uma repentina quietude</p>
<p>tombou sobre os dois.</p>
<p>Ele subiu o volume do rádio,</p>
<p>ela pôs-se a cantarolar</p>
<p>e o vento afugentou as chamas...</p>
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<p>Alice Rios (In Condomínio Aberto)</p>