Fumar no Céu de 13 Bocas de Navalha

Fumar no céu

Carlizinho levantou-se e pediu um cigarro a Joana.

- Um cigarro?! Pede um cigarro numa altura destas?

Vá, tenha maneiras…

- Mas querida… ninguém repara. Vá lá, estou tão aflito.

- Nem pensar nisso é bom. Ele pode reparar.

- Ele, sempre Ele. Que mania da perseguição a sua, Joana.

E digo-lhe mais: Ele não pode estar sempre em toda a parte com para aí se diz.

- Ai não? Então olhe, olhe. Lá está Ele a olhar para cá. Disfarce!

- Disfarçar uma gaita, estou-me nas tintas para Ele.

Quero fumar e mais nada, ouviu?

- Pois é Carluzinho, pois é. Mas não se esqueça a sorte que é estar aqui. Há muito boa gente que se matava para cá estar em cima e nunca hão-de conseguir esse privilégio.

Por isso aconselho-o a não abusar da sua estrelinha da sorte. Além disso, lembre-se, você não suporta o calor.

- Oh minha querida, não sei o que seria de mim sem alguém como a Joaninha ao meu lado.

Você é um anjo.

- Pois, pois, meu amigo, aqui no Céu toda a gente, a pouco e pouco, vai deixando de fumar.

- Tem razão, mil vezes tem razão, mas sabe, é tão difícil.

Fumar no Céu de 13 Bocas de Navalha de Carlos Piecho

Leitura de Natacha de Noronha em
https://youtu.be/7y89J7pQXQo

 

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