Gulag

O verde que a tela falseia no muro

não impede a desolação da calçada

em que caminha a minha alma.

Estão nuas de Outono

as famélicas árvores

que beiram o rio.

A insistência do silêncio

indica a partida dos Melros.

Foram em busca do Sul. Em busca do Sol.

Talvez em busca dos seios libertos

de Isadora Duncan.



Pudesse, eu os seguiria.

Mas estou preso no Gulag que a vida construiu.

É minha sina. Tenho que suportar a tortura.

Suportar a falsa jura,

a ganância da usura,

a promíscua mistura,

o insano incêndio na leitura

e, principalmente, o fim da ternura.



Estou preso e condenado pelo crime de sonhar.

Pela ousadia de acreditar

que a vida é mais

do que nos quiseram contar.



Logo, a mulher que me rouba o pátio

abrirá a cela que acomodará

a minha insônia.

Pudesse, eu lhe pediria

que o outro escuro

também trouxesse.





                   Homenagem pouca à esplêndida Isadora Duncan

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