Já fui...

Já fui,
chuva fria num Verão escaldante,
Sol abrasador num Inverno Errante...
Fui tantas coisas por vezes sem nexo,
um ser simples dentro de um sentir complexo...
Já fui, tempestade dentro da bonança,
fui lágrima bebida num sorriso de esperança...
Fui mão rude para afagar,
castiguei com maciez só para me vingar...

Já fui folha caduca numa primavera em flor,
persistente Outono buscando Amor...
Já fui mulher desejando ser criança,
menina num corpo em constante mudança...
fui inteira em meus fragmentos,
farrapo de gente sem nenhuns lamentos...

Já fui jura sagrada sem religião,
herege devota a um coração...
fui louca para burlar a sanidade,
menti muitas vezes para saborear a verdade...
Já fui viúva da minha própria morte,
solteira em núpcias na cama da sorte...

fui dúvida cheirando a certeza,
retrato do feio emoldurada pela beleza...
Já fui santa com o diabo à espreita,
demónio angelical fora de suspeita...
fui  franqueza numa só pessoa,
ser rancoroso que tudo perdoa...

Já fui amante sem o desejar,
uma simples foda querendo ficar...
fui recordação sem  se quer ser lembrança,
presente e futuro num passado que cansa...
Já fui muito menos querendo ser mais,
análoga em partes desiguais...

fui o que me foi destinado a ser,
alguém controverso com convicção de viver...
Já fui muro alto difícil de subir,
areia pisada sem ninguém sentir...
fui mágoa degustada com requintes de  prazer,
felicidade no peito que insiste em doer...

Já fui saudade quando o perto era além,
pertenci a toda a gente sem ser de ninguém...
fui noite escondia pelo sol do dia,
senhora com casa não passando de uma vadia...
Já fui tudo e muito mais hei de ser,
a vida está aqui e eu tenho que a viver,
recusá-la não posso, negá-la também não,
vou sendo e não sendo conforme a ocasião...

*** Ártemis ***

Género: 

Comentários

Cara amiga,

A tua alma tem muitas vidas e com ela navega uma luz que brilha na grandeza da tua existência.

Na força de  expressão dos teus poemas, podes ser o que quiseres. Tocas e tocarás o coração de quem gosta de poesia. Bebendo num só folgo as palavras, expressões e sentimentos que os teus poemas transportam.

Não sei se é por estar mais fragilizado decorrente de algumas vicissitudes, conjugado com a quadra que atravessamos, se é da idade, se é do qe é? Possivelmente estou a ficar piegas.

De todos os poemas que tive opurtunidade de ler, este, foi aquele que mais me tocou.

Obrigado por este momento. Que a luz qe te acompanha se projecte e ilumine a tua caminhada

João Murty

Agradeço demais a sua gentileza para comigo e para com a minha escrita!

Disse algo muito verdadeiro, em mim existem muitas vidas...muitos sentires!E os meus poemas carregam neles o peso da minha alma...

Também para mim esta quadra me torna sempre um pouco mais sensivel um pouco mais eu...não sei explicar, ou talvez até saiba, mas levaria letras e letras para dizer o que o meu coração teima em calar!

De qualquer forma, entre tristezas e alegrias se faz o ser humano...e quanto mais delas houver mais humanos nos tornamos, é sinal que a vida essa nos toca profundamente...

Desejo-lhe o melhor do mundo...não apenas para o hoje mas para o sempre!

Feliz Natal meu amigo...que os presentes mais valiosos que receba sejam os corações de quem ama!

Abraço

Ártemis

 

nossos passos

no plano contraditório

são apenas a flor 

de um plano

muito maior.

 

Votos de *Festas Felizes*

 

_Abílio Henriques.

Disse muito bem, amigo Henricabilio...

Votos de Boas Festas!

Abraço

Ártemis