MÃI E FILHO
Primicias do meu amor!
Meu filhinho! do meu seio
Tenro fructo que á luz veio
Como á luz da aurora a flôr!
Na tua face, innocente,
De teu pai a face beijo,
E em teus olhos, filho, vejo
Como Deus é providente.
Via em lamina doirada
O meu rosto todo o dia
E a minha alma não se havia
De vêr nunca retratada?
Quando o pai me unia á face,
E em seus braços me apertava,
Pomba, ou anjo nos faltava
Que ambos juntos abraçasse!
Felizmente, Deus que o centro
Vê da terra e vê do abysmo,
Que bem sabe no que eu scismo,
Na minha alma um altar viu dentro:
Mas com lampada sem brilho,
Sem o deus a que era feito...
Bafeja-me um dia o peito,
E eis feito o meu gosto, filho!
Como em lagrimas se espalma
Dôr intima e se esvaece
D'alma o resto quem podesse
Vasar n'um beijo em tua alma!
Mas em ti minha alma habita!
Mas teu riso a vida furta...
Mas (que importa!) morte curta!
Se um teu beijo resuscita!
Coimbra.