MANHANS BRUMOSAS
Autor: Cesário Verde on Saturday, 12 January 2013
Aquella, cujo amor me causa alguma pena, Põe o chapeo ao lado, abre o cabello á banda, E com a forte voz cantada com que ordena, Lembra-me, de manhan, quando nas praias anda, Por entre o campo e o mar, bucolica, morena, Uma pastora audaz da religiosa Irlanda. Que linguas fala? A ouvir-lhe as inflexões inglezas, --Na Nevoa azul, a caça, as pescas, os rebanhos!-- Sigo-lhe os altos pés por estas asperezas; E o meu desejo nada em epoca de banhos, E, ave de arribação, elle enche de surprezas Seus olhos de perdiz, redondos e castanhos. As irlandezas teem soberbos desmazelos! Ella descobre assim, com lentidões ufanas, Alta, escorrida, abstracta, os grossos tornozelos; E como aquellas são maritimas, serranas, Suggere-me o naufragio, as musicas, os gelos E as redes, a manteiga, os queijos, as choupanas. Parece um «rural boy»! Sem brincos nas orelhas, Traz um vestido claro a comprimir-lhe os flancos, Botões a tiracollo e applicações vermelhas; E á roda, n'um paiz de prados e barrancos, Se as minhas maguas vão, mansissimas ovelhas, Correm os seus desdens, como vitellos brancos. E aquella, cujo amor me causa alguma pena, Põe o chapeo ao lado, abre o cabello á banda, E com a forte voz cantada com que ordena, Lembra-me, de manhan, quando nas praias anda, Por entre o campo e o mar, catholica, morena, Uma pastora de audaz da religiosa Irlanda.
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