Master Chef, o ovo, o filósofo e o foie gras... O figado gordo!

O  master chefe, o ovo, o filósofo e o foie gras... O figado gordo!

 

 

Restaurante, um restaurante para ricos, um lugar de encontros seletos, de alimentação dita especial, de status social aparente, luxuoso, com mármores e lustres de cristais. Um restaurante frequentado por pessoas ditas celebridades ou importantes, VIPs, com grande patrimônio ou altíssimas rendas e cargos políticos elevados, casacos de pele, joias, carros importados, luxo, grife, altivez e blefe. Um restaurante, com vários tipos caríssimos de alimentos, que cobram absurdos por pratos exóticos de nomes incompreensíveis, calóricos, de gosto duvidoso, porém, escolhidos por chefes arrogantes que ditam o que é e o que não é boa comida. Restaurante socialmente dividido, um verdadeiro regime de segregação social e racial, entre os que trabalham na limpeza e na preparação dos alimentos e o dito chefe, o sabe tudo - pelo menos alguns agem assim - o iluminado da comida. Mas, até neste templo dos sabores e mastigação, pode ocorrer encontros diferentes, com pessoas de pensamentos diferentes. Um filósofo professor juntamente com um grupo de mestrandos dirige-se ao requintado restaurante. O professor filósofo é conhecido por ser extravagante em palavras, falar o que pensa, ser um pregador da liberdade de expressão. Ao chegar ao estabelecimento, são obrigados a voltar e trocar de roupas, é absurdamente exigido um tipo de roupa: terno para homens e vestidos especiais para mulheres, bem, a exigência é amargamente cumprida. Estão todos à mesa quando o garçom com ar de quem não deseja servir cumprimenta o grupo e comunica educadamente e friamente o cardápio. Ele indica a já posta e escolhida indicação do chefe: foie gras! Ao falar, o professor interpõe: "Espere, não, figado gordo, não... E figado gordo de animal torturado? Por favor... Absurdo servir essa merda aqui, aliás, absurdo servir esta merda em qualquer lugar!" Pessoas sentadas ao redor da mesa olham rapidamente o episódio peculiar acontecendo no restaurante. O garçom um tanto ríspido declara: "Senhor, a indicação do chefe é absolutamente correta! Ninguém questiona! O bom gosto, a excelência do prato, isto é indiscutível!" Uma risada, outra, outra, uma gargalhada, várias gargalhadas... E uma sentença: "pinguim, pinguim, primeiramente um abraço para o Batman e o Robin! O senhor sabe muito bem senhor pinguim que este prato é um crime existir, o animal é absurdamente torturado sendo forçado a ingerir comida ao extremo de sua capacidade de alimentar-se, inchado, regurgitando, agoniza em vida para ter este figado gordo através de um colapso gástrico e hepático, que se derrete em bocas fúteis de sorrisos amarelos e falsos, que não se importam com o sofrimento do bicho! Vamos pedir: arroz, feijão e ovo, alegria do povo! E, suco de laranja!" O garçom inconformado retira-se! Em seguida, com uma proeminente barriga, olhar fixo, andar acelerado, eis o chefe, o master, o homem responsável pelos pratos, pela comida: o deus do rango! Com sotaque francês declara: "boa noite! O que está acontecendo? A comida foi rejeitada e o garçom foi ofendido? Não estou entendendo? Expliquem-se senhores!" Uma risada, outra risada, o grupo gargalha, o professor pede calma para os estudantes e olhando para a barriga do homem fala: "Não achamos ético comer, seja lá o que for, advindo de um animal torturado como este foi! Pedimos arroz, feijão e ovo! O master chefe pode fazer?" O homem da comida, o sabe tudo, o pálido francês fica vermelho, os olhos bem abertos, ele esbraveja: "nunca escutei tamanha ofensa! Nunca ouvi tamanho disparate! Essa coisa que você pede e chama de comida é comida de gentalha, de gente pequena, de pobres inferiores e sem cultura, vocês querem aparecer? Pois escolheram o lugar errado... Fora! Fora! Fora seus arruaceiros ignorantes que não sabem o que é cozinhar e o que é comida de verdade! Fora!" O professor responde: "calma senhor, sabemos que entende de comer (o professor fala dirigindo o olhar para a enorme pança do homem) sabemos que muito trabalho é realizado para que pessoas ilustres comam neste lugar luxuoso, sim, porém, não somos arruaceiros, não somos ignorantes, há por nossa parte conhecimento de grande quantidade de animais torturados de forma terrível, confinados e torturados, para que este prato seja servido. E seu argumento que arroz e feijão, o prato nacional do Brasil é comida de pessoas assim, não vou repetir suas palavras... Senhor master chefe dos quinhentos anos deste país, quase quatrocentos foram de escravidão, as pessoas comeram e construíram este imenso país alimentando-se de arroz, feijão, farinha de mandioca, polenta, e muitas outras comidas... Estas pessoas construíram este Brasil onde o senhor administra esta cozinha, estas pessoas não são inferiores ao seus clientes e muito menos ao senhor!" O chefe começa a falar em francês, grita, gesticula, aparece partes de sua barriga, estar com tanta raiva mas não sabe o que fazer diante do acontecido. O professor conclui: "calma chefe, calma, estamos só dialogando, por favor, o senhor vai fazer o nosso pedido? Pagaremos o preço do figado gordo do animal torturado! Então? Vai fazer?" O chefe: "vão pagar mesmo? O preço do FOIE GRAS?" Todos respondem em coro: "Sim! Traga o arroz com feijão e ovo, alegria do povo, e sucos de laranja! Vai senhor barriga acelera que a fome está grande!" Constrangido o francês retira-se e logo em seguida o pinguim, digo, o garçom traz o prato principal que eles pediram. No final, satisfeitos retiram-se agradecendo e diante dos olhares frios declaram: "ESTA MERDA DE FIGADO GORDO DE AVE TORTURADA NÃO DEVERIA SER SERVIDA EM LUGAR NENHUM!" Bem, eis o resultado: saiu nos jornais o que ocorreu no restaurante famoso, aconteceram manifestações populares, políticos interviram, a prefeitura criou uma lei, o prato foi proibido! Simples...

Género: