MENINO POETA

MENINO POETA

Menino poeta, de olhos cansados, escutando, os sons roucos das

palavras sem nexo nesta escrita de loucos, deste poema corrido, onde a

perseverança é nublada por pensamentos vestidos de negro, decantados

na desilusão da espera e trajados em crepúsculos pálidos da incerteza.

As frases dos teus poemas jazem vencidas caídas, varridas, para

esse abismo profundo de solidão. E a sorte, essa, amarga e profana até

na morte, cai em mergulho profundo, asfixiando-se por entre ais e

lamentos numa mortalha lírica coberta por aromas de cedro e de rosa.

Nada mais resta, apenas perpetua o barulho rasgado do silêncio

dilacerado por sons imaginários, que bramindo corre no rio do

pensamento, envolvendo lentamente a tua alma numa monotonia

latente de escrita, sem fio de versos, sem espaços em escrita de prosa.

Poema escrito no luto, inspirado num tempo devoluto e sem

sabor, de traje negro te venera, declamando estes versos à nossa dor.

É uma tristeza sentida. É uma lágrima que cai.
É a voz que já não fala. É o corpo dormente.
É a amargura da vida. É a esperança que vai.
É a pena que cala. É a fuga para a frente.
É a agrura sentida. É uma luta sem sorte.
É a tinta que goteja. É o tinteiro que cai.
É a sina da vida. É a gadanha da morte.
É o anjo que beija. É a alma que sai.

É o sono profundo do menino que cedeu.
É o sonho sem mundo do poeta que morreu.

João Murty

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Comentários

 das palavras, como íntimo dos sentidos,

brotam as mAis profundas emoções sentidas. 

 

Bela prosa poética!

 

_Abílio

 

Este poema foi declamado no Casino Estoril - Salão Preto  Prata, no decorrer do lançamento da obra Antologia de Poesia Portuguesa Contemporãnea "Entre o Sono e o Sonho - V edição", da Chiado Editora. A antologia tem cerca de 1.400 páginas (tomo 1 e 2), mais de 1.000 poemas e igual nº de autores.

O  poema foi esolhido para ser declamado no evento.O actor  convidado  que o declamou, com a sua voz grave e tempo de espera bem colocado, potenciou o poema, gerando um momento lindo de poesia.

Um grande abraço Abilio e obrigado pela visita.

João Murty

Mérito! Lindo o poema declamado!

Parabéns!