Meu casto lirio

    Meu casto lirio,
    Terno delirio,
    Gloria e martyrio
    Do meu amor!
    Amo-te como
    A haste o gomo,
    O labio o pomo
    E o olho a flôr.

    Se ao meu ouvido
    Sôa um rugido
    Do teu vestido,
    Que ouço roçar;
    Que som me vibra
    Não sei que fibra
    Que me equilibra
    A mim no ar!

    E que harpa santa
    É que me encanta
    E enche de tanta
    Consolação,
    Quando uma falla
    Terna se exhala
    D'onde se embala
    Teu coração!

    Quando te vejo
    D'um simples beijo
    Córar de pejo,
    Mudar de côr,
    Que susto é esse
    Que me parece
    Te empallidece,
    Rosa d'amor!

    Quando no leito,
    Teu niveo peito
    Sonho que estreito
    E aperto ao meu;
    Vendo tão perto
    O céo aberto,
    Porque desperto...
    Anjo do céo!

    Não fujas, rosa!
    Não fujas, goza
    Manhã mimosa,
    Manhã d'amor;
    De folha em folha
    A flôr se esfolha
    Bem cedo, e olha
    Que és como a flôr!

Coimbra.

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