A Minha Piedade

A Bourbon e Meneses

Tenho pena de tudo quanto lida
Neste mundo, de tudo quanto sente,
Daquele a quem mentiram, de quem mente,
Dos que andam pés descalços pela vida,

Da rocha altiva, sobre o monte erguida,
Olhando os céus ignotos frente a frente,
Dos que não são iguais à outra gente,
E dos que se ensangüentam na subida!

Tenho pena de mim... pena de ti...
De não beijar o riso duma estrela...
Pena dessa má hora em que nasci...

De não ter asas para ir ver o céu...
De não ser Esta... a Outra... e mais Aquela...
De ter vivido e não ter sido Eu...

Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"

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MINHA ALMA

Oh! alma minha sofrida
Queria eu adentrar na tua essência
Para compreender a minha existência
E poder melhor entender a vida.
 
Oh! alma da minha vida
tão efêmera quanto é bela uma hortência,
Rege-me com tanta eficiência
Que eu não entendo a dor vivida.
 
Vives tão em mim que me confundo
Se a alma sou eu ou eu sou a alma, 
Se faço parte deste ou do outro mundo.
 
Se te encontro no meu ser profundo,
Na profundeza que alivia e acalma,
Não entendo se sou você ou você sou eu no mundo!