Não me admira a mim que o sol, monarcha...

    Não me admira a mim que o sol, monarcha
    De indisputavel throno, e throno eterno
            Em céo e terra e mar;
    Que em seu imperio o mundo inteiro abarca
    Abaixe á pobre flôr seu dôce e terno,
            Mavioso olhar.

    Não me admira a mim que a crystallina,
    Tão pura, onda do mar, que espelha a face
            Do astro creador,
    Que essas asperas rochas cava e mina,
    Á praia toda languida se abrace
            E toda amor!

    Mas sendo vós um sêr mais precioso
    Do que onda e sol--um anjo de poesia
            Inspirada e que inspira;
    Que ás minhas mãos, das vossas, tão mimoso,
    Delicado penhor descesse um dia
            É que me admira.

    Quizera nos meus cofres de poeta
    Ter as riquezas todas do Oriente,
            E com mãos liberaes
    Expulsar esta duvida que inquieta
    Um grato coração que apenas sente
            E... nada mais!

    De limpido diamante e fio de oiro,
    Quizera-vos tecer collar que á aurora
            Vencesse em brilho e côr;
    Mas o poeta, o unico thesoiro
    Que tem, ah! são as lagrimas que chora
            E o seu amor.

    Eu vol-o dou. E lá do espaço immenso
    Se amada estrella olhar piedoso envia
            A quem da terra a adora;
    Se o sol aceita á flôr humilde incenso;
    Ha no amor tambem muita poesia...
            Minha senhora!

Evora.

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