Nunca me ha-de esquecer (ingrata! escuta)
Autor: João de Deus on Wednesday, 19 December 2012
Nunca me ha-de esquecer (ingrata! escuta)
Não tendo eu mais talvez que os meus dez annos
Esses olhos crueis, esses tyrannos
Commigo em porfiada aberta lucta.
Se eu fôra voraz lobo ou fera bruta
D'entranhas más, instinctos deshumanos,
Talvez o fructo então de teus enganos
O não colhesses tu de face enxuta.
Mas eu perdôo-te o mal que me has causado;
A culpa não é tua e só devia
Vingar-me em quem tão bella te ha formado.
E hei-de vingar-me, crê; mas isso um dia
Depois d'um beijo teu me pôr em estado
De disputar a Jove a primazia.
Evora.
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