RÁMÁLÁIDÊM: o chorar! A infância....

RÁMÁLÁIDÊM: o chorar! A infância....

 
RÁMÁLÁIDÊM: o chorarA infância...
 
 
 

 

Chorar, chorar, chorar compulsivamente... Chorar!
E não há ouvidos, não há quem escute!
Ou, se escutando está, decide ignorar!
Chora o menino recém nascido,
nascido da mãe que acabará de morrer,
morrer sangrando com suas mãos decepadas,
cortadas por facões empunhados por mãos assassinas,
uma dança de movimentos macabros,
um tormento até o último suspiro.
Eis o menino, que foi concebido por estupro,
eis o clamor da vida,
eis o grito não ouvido no deserto escaldante,
eis a natureza em sua dureza imperial e mortal!
Sol implacável, escorpiões espreitando,
o seu berço é a areia quente, o carinho é o vento sujo,
morno, que uiva; abandono, morte, morte eminente...
O rio do tempo vai passando, e será este menino,
mais um dos milhões que definham no mundo?
Será que não há olhos na divindade?
Será que não há um significado para o sofrer humano?
Será que há uma justiça natural e uma sobrenatural?
O que será? O "será" é um: buscar sem respostas.
Uma outra palavra é necessária: a palavra "É"!
É o real, o que ocorre, milhões morrem,
a vida de muitos vai esvaindo-se, olhares de lágrimas,
milhões, choros, milhões, vidas e mortes...
Mas, uma mudança surge nas dunas tórridas do deserto,
um carro potente, pessoas com outros pensamentos,
não pensamentos para a morte, mas, para a vida,
a salvação, a saúde, o conhecimento...
Eis o encontro, o resgate, outro nascimento,
um segundo nascimento para o menino, uma mãe,
uma mãe de outra parte do mundo.
A doutora Maria Judá olha para o menino recém nascido,
observa com seus grandes olhos verdes
a terrível situação de sua mãe
já morta e envolta em sangue e areia...
Aos prantos, mas, com força e intrepidez,
ela corta o cordão umbilical...
Quando seus olhos voltam para o rosto do menino
em seus braços, um grito agudo
e que parece um arrepio em forma de som ecoa:
RÁMÁLÁIDÊM!
A amiga parteira, profundamente ferida,
toda cortada pelo fio das armas das bestas assassinas,
antes parecia morta,
mas uma última palavra apontando o dedo para o menino!
Maria olhando para o menino repete o que seria seu nome:
RÁMÁLÁIDÊM...
Então este será seu nome!
A criança diminui seu choro,
os olhos da doutora Maria
vasculham cuidadosamente o corpo de RÁMÁLÁIDÊM,
eis um sério problema, visto primeiramente,
visto já nos primeiros olhares,
o bebê apresenta uma anencefalia.
Mas Maria e a equipe com ela presente,
que são pertencentes a uma ONG médica de salvamento
e atendimento em áreas de risco e de conflito questionam:
como pode o menino nascido nessas condições
e circunstâncias, tendo esta má formação,
consegue chorar assim?
Esta pergunta será respondida só
com vários exames
fala o doutor e ex namorado de Maria, José Salvador.
O doutor Salvador trabalhou em várias partes do mundo
e não tinha enfrentado ainda um problema tão grave
de assassinatos e mutilações
como o que estava presente na terra de RÁMÁLÁIDÊM.
O menino foi levado pela equipe
para um campo avançado e protegido pela ONU, e la,
tratado,
limpo e feito exames,
decidiram levá-lo para o país onde a ONG médica
tinha um hospital universitário com tecnologia de ponta.
RÁMÁLÁIDÊM era uma criança especial,
deveria estar morta ou em estado de paralisia,
mas não estava. Já no novo país,
a doutora Maria decidiu adotá-lo, decidiu também,
que seu nome continuasse, o nome clamado,
a última palavra da mulher que acompanhará sua mãe.
Mas, não poderia levar seu filho para casa,
a criança ficou no hospital universitário.
Com uma equipe das mais qualificadas do mundo,
com profissionais de centros acadêmicos
de suma importância na medicina internacional,
decidiram, um tratamento experimental,
a aplicação de uma tecnologia jamais utilizada antes.
Assim sendo, RÁMÁLÁIDÊM foi reconstruído aos pouco,
isto é, sua parte do sistema nervoso central.
Com células tronco, com partes do cérebro amplificadas
com inteligência artificial, eis o milagre científico:
o cérebro, ou o conjunto formado pelo cérebro inicial
e cerebelo, somados a um grande grupo de células
implantadas e a uma micro rede neural artificial
super complexa, RÁMÁLÁIDÊM, já com um ano,
falava utilizando um conjunto de palavras
que nenhuma criança conseguiria utilizar,
já resolvia problemas de matemática que somente aos dez
anos poderia resolver,
desenvolvia habilidades de processamento
de informações nunca documentadas pela ciência.
Na sua primeira década de vida ele era um fenômeno,
um milagre científico.
Conseguia ler rapidíssimo,
tinha acesso a informações sobre os mais diferentes temas.
Morou no hospital até completar dez anos de idade, depois,
pediu uma reunião com sua mãe,
o doutor Salvador e a equipe do hospital universitário
que até ali, tinha sido sua casa, sua escola, seu abrigo,
seu lar.

 

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