SAUDADE

    Em acordando agora,
    O meu contentamento
    É vêr em cada aurora
    Um dia de tormento!

    Podesse eu dar-te a prova
    Dos dias que me esperam,
    Lançando-me na cova
    Onde elles te pozeram!

    Lançassem-me algum dia
    Ao pé, que de repente
    O coração te havia
    De ainda pular quente...
 
    A face cobrar logo
    A fórma e côr perdida,
    E a bocca toda fogo
    Ah! inspirar-me a vida!

    Supplíca, ó anjo! implora
    Ao Pai universal
    Que me deixe ir embora
    D'este horroroso val

    De lagrimas amargas,
    E turvas de tal modo,
    Como umas nuvens largas
    Que tapam o céo todo!

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