A UM THEATRO ACADEMICO
Autor: Soares de Passos on Friday, 21 December 2012
Abrindo sepulchros, rasgando mysterios, Quem mortos gelados levanta de pé? Quem varre co'as azas as cinzas d'imperios, E os vultos heroicos anima, quem é? Quem tira do nada uma fórma divina? Quem finge uma imagem de negro terror? Quem ergue virtudes, e o crime fulmina? Quem risos excita, quem prantos de dôr? --O genio do drama e o genio da scena!-- São elles que traçam, em véo d'illusões, D'amor, de ciume, de riso, e de pena O jogo travado, fallando ás paixões. São elles unidos que em chamma inquieta Sentiu Gil Vicente na fronte escaldar? São elles que o bardo da terna Julieta, E a fronte de Talma vieram c'roar. São elles, mancebos, que em nuvens de flôres A senda apontaram que afoitos seguis, De palmas e c'rôas, de magos fulgores, Mas senda d'espinhos; c'o genio condiz. Em nobre fadiga, que os ocios despreza, D'acerbos estudos assim descançaes! Foi bello o designio, difficil a empreza: Quem logra nas artes repouso jámais? Que importa? na lucta se provam alentos, Sómente na lucta se colhem laureis; Aos peitos ardentes, de gloria sedentos, Reluz a bonança por entre os parceis. Ávante! e que o genio das artes potente O fogo das artes vos possa trazer! Que em scenas de prantos o pranto rebente, Que em scenas alegres se gose o prazer! As artes e as letras nasceram amigas: Ás aras das duas incensos levae, E aos louros colhidos em sabias fadigas, Os louros do palco viçosos juntae!
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