A UM THEATRO ACADEMICO

 

Abrindo sepulchros, rasgando mysterios,
Quem mortos gelados levanta de pé?
Quem varre co'as azas as cinzas d'imperios,
E os vultos heroicos anima, quem é?


Quem tira do nada uma fórma divina?
Quem finge uma imagem de negro terror?
Quem ergue virtudes, e o crime fulmina?
Quem risos excita, quem prantos de dôr?


--O genio do drama e o genio da scena!--
São elles que traçam, em véo d'illusões,
D'amor, de ciume, de riso, e de pena
O jogo travado, fallando ás paixões.


São elles unidos que em chamma inquieta
Sentiu Gil Vicente na fronte escaldar?
São elles que o bardo da terna Julieta,
E a fronte de Talma vieram c'roar.


São elles, mancebos, que em nuvens de flôres
A senda apontaram que afoitos seguis,
De palmas e c'rôas, de magos fulgores,
Mas senda d'espinhos; c'o genio condiz.


Em nobre fadiga, que os ocios despreza,
D'acerbos estudos assim descançaes!
Foi bello o designio, difficil a empreza:
Quem logra nas artes repouso jámais?


Que importa? na lucta se provam alentos,
Sómente na lucta se colhem laureis;
Aos peitos ardentes, de gloria sedentos,
Reluz a bonança por entre os parceis.


Ávante! e que o genio das artes potente
O fogo das artes vos possa trazer!
Que em scenas de prantos o pranto rebente,
Que em scenas alegres se gose o prazer!


As artes e as letras nasceram amigas:
Ás aras das duas incensos levae,
E aos louros colhidos em sabias fadigas,
Os louros do palco viçosos juntae!
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