Uma Mãe

Uma mulher caminha 
Na rua nua de amor
Ela põe a sua mão na minha 
E olha para mim na sua dor.
 
Fecha o rosto com as mãos 
Para chorar o vazio avassalador.
Enquanto uma lágrima corre nos olhos
Uma avassaladora dor.
 
Mãe que grita por dentro
Chora a amargura da guerra
Um filho mal agasalhado 
Parte para enfrentar a guerra
Que ele nunca jamais iria escolher.
 
A minha mão tenta apaziguar a dor
Da mãe, mas isso apenas piora.
A minha mão traz as recordações de amor
E fá-lo porque a minha mão era o toque fantasma 
Da mão do seu filho
A mãe chora mais e encerra mais a sua mão
Mas às lágrimas jamais podem trazer consolo
Chorar apenas é uma reação humana ao luto
E ela sabe que não o vai trazer de volta
Ela colapsa-se no luto e no vazio.
 
Uma boa mãe, um bom filho 
E um ditador que quer apenas sangue.
Um ventre sempre cheio de amor.
Um ventre vazio vazio e tanta dor.
 
António Madrugada
Foto: André Gomes no Parque das Caldas da Rainha - Parque D. Carlos I.
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