A UNS OLHOS AZUES
Cahe a folha da rosa pudibunda,
Cahe a rosa da face virginal,
Cahe das nuvens a aguia moribunda,
Cahe o sol na montanha occidental.
Cahe a onda na praia, cahe do somno
O poeta na luz; e cahe das mãos
Dos despostas o sceptro, elles do throno,
Como a seus pés cahiram seus irmãos!
Cahe dos labios o riso; cahe dos olhos
A lagrima tambem, que d'alma sahe;
Cahe a rocha no mar, cahe nos abrolhos
A flôr de liz; de louro a folha cahe.
Cahe do céo a centelha incendiaria,
A nuvem cahe se um sopro Deus lhe dá,
Cahe ante o dia a noite solitaria
Como o falso Dagon ante Jehovah.
Cahe tudo, flôr! cahe tudo; eu só não cáio:
Mais do que um rei, que o sol, igual a Deus,
Cahir, mulher! só posso á luz d'um raio
Se elle cahir do céo dos olhos teus!
Luso.