VOZES VOCIFERAM
VOZES VOCIFERAM!
Vozes vociferam!
Desde os remotos tempos... Antigos, perdidos, arcaicos, imemoriáveis...
Antes de qualquer invento! De qualquer transformação pelo cérebro mão...
Antes da roda, da manipulação do fogo, da escrita, das leis, dos calendários...
Mitos antigos, canções, contos, lendas, ensinos, o fantástico...
Das lanças de caça! Dos arcos e das flechas...
Antes da necrópole de Gizé! Antes da grande muralha chinesa!
Antes dos escritos divinos! Antes dos profetas políticos!
Vozes vociferam!
Dogmáticas, libertárias, loucas, lunáticas...
Desesperadas, em clamor, em horror...
Surpresas, confusas, sábias, poéticas, filosóficas...
Vozes vociferam!
Transmitindo, repetindo, pranteando, rindo...
Ao proclamar, ao convencer, ao converter, ao iluminar...
Ao conduzir, ao mentir, ao prometer...
Vozes vociferam!
Nas guerras e antes delas... Nas matanças, nos genocídios, mas mortes de inocentes...
Na paz e em suas mentiras... Na condução deturpada dos fatos...
Nas pregações idolátricas! Nas pretensões fanáticas...
Vozes vociferam!
Instigantes! Trocadas! Erroneamente compreendidas!
Malignamente distorcidas! Gravadas! Sonhadas!
Reveladas! Instituídas! Recortadas!
Vozes vociferam!
Interconectadas! Reverberantes!
Indigestas! Mutantes!
Vozes vociferam!
Mágicas! Santas! Lindas! Inquietantes!
Vozes vociferam!
E eis aqui minha voz: minha?
Nas letras, eis meus símbolos, pobres tentativas, nesses pretensos ensinos...
Nestes erros, nestas incapacidades, nesta indiferença provocada...
Neste encontro na História...
Neste momento diferente...
Eis minha voz! Minha? Sim, mas há muitos em mim? Será?
Vocifere além de mim voz, além de meu curtíssimo tempo, além do que sinto e penso...
Além do que perdi e não sei mais...
Além do meu pranto calado...
Além do que pensei e já não penso mais...
Além do que sinto e não consigo transmitir...
Além de minha mente que muitas vezes enclausurada mente!
Reverbere!
Vocifere!