ALFABETIZANDO
Ah! Quem não lembra quando na vez primeira
Sentou-se Joaquim tímido na carteira?
Aquele pedreiro cheirando a concreto,
Pai de família, modesto, analfabeto...
Perante o quadro negro todo encolhido,
Temendo o abecedário desconhecido.
Tão cuidadoso co`as folhas da cartilha,
Segurando-a qual sua primeira filha.
Com a língua no lápis molhando a ponta,
Repetindo as vogais sem qualquer conta.
No caderno a letra feia “destrilhada”
Feita no tremor da mão tão calejada.
Da professora a dedicação fraterna,
Em seu ensino uma postura materna.
Lá fora a noite de belas festas cheia,
Aquela sala parecendo uma cadeia.
Dias e dias afrontando o cansaço,
Cada degrau avançando em lento passo.
A vergonha perdendo com certo alarde,
Pois para quem quer aprender nunca é tarde!
E, certa noite, espanta-nos uma cousa,
O Joaquim levanta-se a vai à lousa.
Silencioso, pega o giz qual quem domina,
Com quatro letras escreve o nome “Nina”.
Então, gargalha muito, nervosamente
E questionam-lhe a atitude irreverente.
Joaquim conta orgulhoso por aprender:
- Puxa, Nina é o nome da minha mulher!
Comentários
F.G.
Dom, 01/12/2013 - 22:50
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Honradez
Ícaro Marques E...
2ª, 02/12/2013 - 18:14
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bem escrito
Compartilhei. Gosto de poemas estéticamente construídos. Parabéns