SONHOS DE POETA - I

SONHOS DE POETA - I

Filho de um contentamento descontente,
flutuo mo sonho de símbolos e lavras.
Onde enigmático se esconde esse silêncio
de figuras que marcham, entrando nas palavras
cínicas, déspotas, que subjugam rudemente,
esmagando o verbo pelo prestígio da morte.
Escorre-me letras dilaceradas pelas narinas e boca,
cuspo palavras no papel amarrotado.
Encarno o personagem da poesia maldita,
só e penitente, arrasto-me até à hora da morte.
Mastigarei visões, porfiando retalhos de vida louca,
metade de mim é verso, num grito esconjurado.
A outra metade é prosa corrida, mal escrita
lida e relida na mente, no silêncio amargurado.

Os poetas perseguem os sonhos e a eternidade
a utopia da pedra filosofal, decantada na alquimia
uma névoa luminosa dentro da nossa obscuridade
o desejo de transcendência, o delírio da verdade
que envolve a existência, embriaga e nos vicia.

Tiram-nos o sonho, a tristeza impera e não resistimos,
tiram-nos os versos o ar acaba e não respiramos,
tiram-nos o amor o coração para e não existimos.
Não seria possível sonhar se os poetas não nascessem
e as lágrimas morressem.

João Murty

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João Murty