De:Composição
Autor: Ana Flora de So... on Saturday, 28 March 2015
Vivo distante de mim
Num outro tempo.
Vivo distante de mim
Num outro tempo.
É o pouco que nos une.
Um grande país de loucos
somos nós os filhos muitos
somos tantos portugueses
somos tantos tontos
e tão poucos loucos.
E a carne no assadouro
na fogueira das vaidades,
e poucos pagantes fregueses.
Haja quem nos pague
os poucos!
Há sempre quem nos gaste
os porcos!
E a carne ao lume que arde
dos loucos!
São tantas as vezes que arde
a carne!
E a dor que vem tão tarde.
quase sempre,
somos tão poucos às vezes,
porque somos tantos?
EXTINGO UMA PÁGINA DA VIDA – I
Na poesia, quis abusar
das palavras agressivas,
aquelas que vão engrossar
o vocabulário dos protestos.
Escrevi de raiva, frases vivas,
ditadas, sopradas por figuras
anónimas, fãs dos manifestos e da confusão.
Li, e reli, rasgando as passagens ofensivas
e com elas fui engolindo agruras,
mastigadas no tempo em depuração.
EXTINGO UMA PÁGINA DA VIDA - II
Afastei o nevoeiro da razão que impele
que o meu grito abafe e saia assim
engolido em seco, sufocado na garganta
por cenas vividas, múltiplos repúdios
acantonados à flor da pele.
Metamorfoses aprisionadas em mim,
decantam em crescente «por a dor ser tanta»,
virtuais compassos de espera! Autênticos interlúdios
trabalhados, em árias de gemidos dedilhados,
por mãos brancas de músicos amortalhados.
EXTINGO UMA PÁGINA DA VIDA - IV
Quero esquecer, selar a página
de uma vida que já não sei se gostava.
Quero rir-me do que penei e passei
e de tudo o que eu amei, ou amava!
Do passado, apenas o resto do papel e tinta
e a voz! A minha, que ecoa no coração vadio.
Esse grito sufocado que na garganta ficou
e permanecerá nas tácitas asas do silêncio.
Legado ácido de uma aventura extinta,
que acabou na penumbra do vazio!
longe estão as palavras do desafogo os âmagos expelem sentidos indecifráveis no espectro agonizante da impaciência talham-se formas às sensações descabidas do senso na congeminação das inconfidências indestrutíveis neste apego pelo desnorte apenas se suavizam pequenos bolhas de ar puro que ainda nos vão rodeando António MR Martins