Manjedoura
Autor: Miguelsalgado on Sunday, 23 June 2013Na manjedoura está a ração para as cabeças de gado.
Miguelsalgado, "Escuro"
Na manjedoura está a ração para as cabeças de gado.
Miguelsalgado, "Escuro"
A borboleta às cores pousou na flor às cores a morrer por cima do pano que tapa o espetado que havia sonhado e gritado e caído amparado na terra dos pedaços de carne em decomposição. Na terra dos pedaços de carne em decomposição há o esperma que caiu no canto escuro da casa e que depois foi atirado para fora da porta trazendo consigo os cavaleiros do apocalipse que ainda hoje encostam o focinho preto dos cavalos nas vidraças. O focinho preto dos cavalos nas vidraças desenha uma boca fechada e despro-vida de sensualidade tal como um corpo gretado e sujo envolvido numa mortalha tosca.
A aparência de uma maçã
A fome de um andarilho
A cultura de um estudante
Na sinfonia do universo
Nuvens ventos chuvas
Estradas flores gritos
Supérfluos adjetivos
Cravados em um monumento
De soberbos acirrados ingênuos
Panfletos gestos animalescos
Soldados e bombas
Insurgi bravos brasileiros
Com suas lanças de um mais um
Milhões de passos que vi na TV
Bravo
SOU DEUS
AMO
DE TE VER.
Quero sair daqui
Sair desse quarto e ver a noite.
Ir pra uma festa e voltar de madrugada...
Quero acender a luz e escrever.
Quero sair do quarto e sentir o vento lá fora
Sentir a noite e as estrelas
Eu quero levantar desda maldita cama e sair
Sair e só voltar quando eu estiver bêbada.
Quero ir a uma festa
Levantar desda maldita cama e sair.
Quero brigar.
Jogar algo contra a parede e gritar.
Quero quebrar o prato e xinga-lo,
Quero algo para abafar minha voz...
Quero brigar...
Gastei as solas dos sapatos nesta estrada
No meio do pó e pedras soltas pelo tempo
Percorri quilómetros de incertezas de nada
Descosi a biqueira do sapato em passo lento
As pedras feriam-me o interior a cada passada
A biqueira era a porta de entrada da dor sentida
A sola era a base da minha vontade encontrada
Gasta pela estrada sempre percorrida.
Subi montanhas com estes sapatos gastos
Desci vales com os pés descalços de ser
Calcei novamente os sapatos apertados
E percorri a estrada sem me perder
DEUS.
SOU DEUS
E AMO
DE TE OUVIR
TAMBÉM.
SOU DEUS
E AMO
A TEU.
As manifestações,
Que tomaram as cidades brasileiras.
Que nos últimos dias,
Foram tão guerreiras.
Conquistando a sua unanimidade,
Numa expressão de democracia e liberdade.
Nas cores dessa bandeira,
De uma realidade tão verdadeira.
Nessa ideologia social,
O povo que sua reivindicação principal.
Onde que o governo,
Oferece não é tudo.
Onde o povo quer muito mais,
Pra viver nesse mundo.