Geral

Sinto muito, mas tenho pressa

Sinto muito, mas tenho pressa

Sinto muito, mas tenho pressa, não vou esperar construírem-se castelos de areia a beira mar, eu não preciso deles. Certamente o mar os derrubará. Sinto muito, mas tenho pressa. Meus lençóis não gostam de visitas. Eles têm pressa. Já avisei a minha porta, se alguém ela deixar entrar, será para não ter mais nenhuma pressa.

Charles Silva

 

SINA

Já vaguei por ínvios vales,
Como um doudo passarinho,
A fugir de tantos males,
Sempre em busca de meu ninho!

Respirei mais de mil ares
E habitei as ventanias...
Não pilhei os patamares
Que sonhei viver meus dias.

Meu Deus! triste e solitário
Embucei-me em tanto engano,
Só encontrei rente ao calvário
A paixão de um soberano.

Já segui turbas bacantes
E sorri com os mendaces,
E por infindos instantes
Vi a dor correr nas faces.

O MAR ME CHAMA

Eu vou-me embora! Agora o mar me chama.
Não chores Marina, amorosa dama,
Preciso muito as ondas enfrentar.
Ouço da Iara o canto feiticeiro,
Não me iludas c`o pranto derradeiro,
Não vai adiantar.

O mar me chama, escuto o seu gemido...
Mesmo que eu seja um homem dividido,
Minha áurea sina tenho que seguir;
Este desejo é uma brilhante estrela,
Que me conduz à condição tão bela...
No horizonte sumir.

OLHOS QUE EU NÃO VI

OLHOS QUE EU NÃO VI

 

Um olhar aflito vê olhares tensos

Um olho frio outro de angustia

Olhos que querem se ver, outros que não querem olhar

A retina dissipa-se, aperta-se, molha-se

A dor vista, a alegria escondida, dispersa, disfarçada

Olhos que doem por ver, olhos que ardem por não ver

Olhos contidos quietos desarrumados, desajeitados

Lágrimas que não vieram por não haver um momento certo

Os meus, os teus, olhos que eu não vi.

 

Charles Silva

Pages