Tu, místico, vês uma significação em todas as cousas
Autor: Alberto Caeiro on Wednesday, 6 February 2013
Tu, místico, vês uma significação em todas as cousas.
Para ti tudo tem um sentido velado.
Há uma cousa oculta em cada cousa que vês.
Tu, místico, vês uma significação em todas as cousas.
Para ti tudo tem um sentido velado.
Há uma cousa oculta em cada cousa que vês.
E agora, cavalheiros, eu vos deixo
uma palavra
que fique nas vossas mentes
e nas vossas memórias
como princípio e também como fim
de toda a metafísica. 
(Tal qual o professor aos estudantes
ao encerrar o seu curso repleto.) 
Escrito em 23-7-1930, primeira versão.
Todos dias agora acordo com alegria e pena.
Escrito em 11-1-1916.
Todas as teorias, todos os poemas
Duram mais que esta flor.
Que harmonia suave
	É esta, que na mente
	Eu sinto murmurar,
	Ora profunda e grave,
	Ora meiga e cadente,
	Ora que faz chorar?
	Porque da morte a sombra,
	Que para mim em tudo
	Negra se reproduz,
	Se aclara, e desassombra
	Seu gesto carrancudo,
	Banhada em branda luz?
	Porque no coração
	Não sinto pesar tanto
	O ferreo pé da dor,
	E o hymno da oração,
	Em vez de irado canto,
	Me pede íntimo ardor?
Máquina alguma de poupar trabalho
eu fiz, nada inventei,
nem sou capaz de deixar para trás
nenhum rico donativo
para fundar um hospital ou uma biblioteca,
reminiscência alguma
de um acto de bravura pela América,
nenhum sucesso literário ou intelectual,
nem mesmo um livro bom para as estantes
— apenas uns poucos cantos
vibrando no ar eu deixo
aos camaradas e amantes. 
É comum o sapo morrer na lagoa.
	O mendigo comer lixo na sarjeta 
	O tráfico de entorpecentes nas escolas, 
	A fila quilométrica do INSS fazendo curva na rua estreita
	O moleque desde a tenra idade viciado em cola.
	É comum a violência subjugar a lei. 
	A mãe com uma “penca” de filhos no semáforo pedindo esmolas 
	O inocente ser refém da mesma grei,
	Os filhos desesperados do desemprego 
	os escravos das drogas.
No dia em que o amor morreu
	não houve choro nem pranto
	apenas a dor do desencanto
	desses sonhos que eram meus...
	No dia em que o amor morreu
	sepultei a saudade no peito
	desse sentir tão perfeito
	que a vida me concedeu...
	No dia que o amor morreu
	saboreei a candura
	desses beijos com doçura
	que confiaste nos lábios meus...