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*BENEFICIOS E PHILOSOPHIA DO SOL*

Tem sido até agora--o scintillante
E antigo Sol, amigo da Harmonia,
Que me tem ensinado, cada dia,
A desprezar a Morte escura e errante!

As densas nuvens do porvir distante
Desdenha-as a sua epica alegria,
E a sua heroica e sã philosophia
Nada, até hoje, eguala e é semelhante.

Decerto, é grato ao soffrimento insano
Dos tristes, quando surge o _rosto humano_
_Da lua_, abrandecer o Ceu com ais;

Tempestade!

O meu beliche é tal qual o bercinho,
Onde dormi horas que não vêm mais.
Dos seus embalos já estou cheiinho:
Minha velha ama são os vendavaes!

Uivam os ventos! Fumo, bebo vinho.
O vapor treme! Abraço a _Biblia_, aos ais...
Covarde! Que dirá teu Avôzinho,
Que foi moreante? Que dirão teus Paes?

Coragem! Considera o que has soffrido,
O que soffres e o que ainda soffrerás,
E ve, depois, se accaso é permittido

FABULA

    Um dia os deuses, cada qual uma arvore,
    Á sua guarda consagraram: Jupiter
    Esse o carvalho, a murta Venus, Hercules
    Lá esse o alemo, e o loureiro Apollo.
    Vendo-as Minerva todas infructiferas:
    Que é isto? exclama. Jupiter acode-lhe:
    Senão, diriam, filha! que as guardavamos
    Só pelo fructo.--Que me importa digam-no;
    É pelo fructo que a oliveira escolho.

LYRA XXVI.

O destro Cupido hum dia
Extrahio mimosas cores
De frescos lyros, e rosas,
De jasmins, e de outras flores.

  Com as mais delgadas pennas
Usa de huma, e de outra tinta,
E nos angulos do cobre
A quatro bellezas pinta.

Por fazer pensar a todos
No seu lizo centro escreve
Hum letreiro, que pergunta:
_Este espaço a quem se deve_?

  Venus, que vio a pintura,
E lêo a letra engenhosa,
Pôz por baixo: _Eu delle cedo;
Dê-se a Marilia formosa_.

LYRA XXV.

O cego Cupido hum dia
Com os seus Genios fallava,
Do modo que lhe restava
De captivar a Dirceo.
    Depois de larga disputa,
Hum dos Genios mais sagazes
Este conselho lhe dêo:

  As settas mais aguçadas,
Como se em roxa batessem,
Dão nos seus peitos, e descem
Todas quebradas ao chão.
    Só as graças de Marilia
Podem vencer hum tão duro,
Tão izento coração.

CARTA: Bom Sobral, o que eu te disse...

Bom Sobral, o que eu te disse
He, a meu pezar, verdade;
Sonóros, amenos versos,
São obra da Mocidade;

Mandaste que em Crescentini;
Louvando a doce harmonia,
O que o Mundo diz em proza,
Eu lho enfeitasse em Poezia;

Que invocando as brandas Muzas,
Encostada ao peito a Lyra;
Cante os ternos sentimentos,
Que elle nas almas inspira;

Môço Sobral, tu ignoras
Da inerte velhice os damnos;
Nesta fria testa brigão,
Co'teu preceito, os meus annos:

Pensamentos Nocturnos

Lastimo-vos, ó estrelas infelizes,
Que sois belas e brilhais tão radiosas,
Guiando de bom grado o marinheiro aflito,
Sem recompensa dos deuses ou dos homens:
Pois não amais, nunca conhecestes o amor!
Continuamente horas eternas levam
As vossas rondas pelo vasto céu.
Que viagem levastes já a cabo!,
Enquanto eu, entre os braços da amada,
De vós me esqueço e da meia-noite.

*Mysterioso abysmo

      Tepido sonho de luz
      corpo, que destila aroma
      sublime e claro axioma
      espargindo amor a flux!

      Uma vertigem produz
      teu olhar, o seio, a côma,
      voluptuoso symptoma
      que a phantasia traduz.

      Debil flôr, que o sol admira
      beijando com azedume
      as estrellas de saphira...

      mas ninguem sequer presume
      que o meu coração expira
      na mortalha do ciume.

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