Geral

_A' Illustrissima, e Excellentissima Senhora Condeça de Tarouca, na occasião do seu Casamento_.

Senhora, o Forte da Estrella,
Chorando o bem que perdeo,
Das suas justas saudades
Por portador me escolheo;

Quiz que eu viesse contallas
Ao som desta rouca Lyra,
De longos annos affeita
A acompanhar quem suspira;

Não fallo nos ternos Pais;
Nelles a alta Jerarquia
Tempéra saudozo pranto
Com o pranto da alegria;

Ao nome dos seus Passados
Planos caminhos achárão,
Unindo ao sangue de Heróes
O sangue de Heróes que herdárão;

*Vendetta*

     Juraste a minha perdição, ingrata,
      A quem adóro como adóro a vida
      Casta flôr, flôr de neve estremecida,
      Que sorris, quando o teu olhar me mata.

      Gravei no peito aquella rubra data
      Em que te vi, amor! qual na avenida
      Se entalha na fiel casca endurcida
      O nome da huri, que nos maltracta

      E, apesar de seres tão bella e mansa,
      Folgas que a desventura me persiga
      Dilacerado de cruel esp'rança.

Alma a Sangrar

Quem fez ao sapo o leito carmesim
De rosas desfolhadas à noitinha?
E quem vestiu de monja a andorinha,
E perfumou as sombras do jardim?

Quem cinzelou estrelas no jasmim?
Quem deu esses cabelos de rainha
Ao girassol? Quem fez o mar? E a minha
Alma a sangrar? Quem me criou a mim?

Quem fez os homens e deu vida aos lobos?
Santa Teresa em místicos arroubos?
Os monstros? E os profetas? E o luar?

Ó trevas, que enlutais a Natureza

Ó trevas, que enlutais a Natureza,
Longos ciprestes desta selva anosa,
Mochos de voz sinistra e lamentosa,
Que dissolveis dos fados a incerteza;

Manes, surgidos da morada acesa
Onde de horror sem fim Plutão se goza,
Não aterreis esta alma dolorosa,
Que é mais triste que voz minha tristeza.

Perdi o galardão da fé mais pura,
Esperanças frustrei do amor mais terno,
A posse de celeste formosura.

TRISTEZA

      Como isto cá por fóra é tudo alegre!
      Quão bello o sol! que esplendida harmonia
               A terra, o mar e os céos!
      Porem dentro de mim que mundo á parte!
      Que embate de paixões! Que noite funebre!
               Que magoas, Santo Deus!

*OS SANTOS*

Les saints arrachaient leurs auréoles.
     (Dubois)

Viam-nos caminhar, exilados da luz,
As grandes povoações, as rochas, as paisagens.
E os corvos, os fieis amantes das carnagens,
Estos magros heroes, paladins de Jesus.

Andavam rotos, vis, os pés chagados, nús.
Finavam-se a rezar ante as santas imagens,
E ouviam-nos bradar no meio das folhagens:
--Ó arvores em flor! vós sois esquife e cruz!

VELHA FARÇA

Rufa ao longe um tambor. Dir-se-ia ser o arranco
D'um mundo que desaba; ahi vae tudo em tropel!
Vão ver passar na rua um velho saltimbanco
E uma féra que dansa atada a um cordel.

Ó funambulos vis, comediantes rotos,
O vosso riso alvar agrada á multidão!
E quando vós passaes o archanjo dos esgotos
Atira-vos a flôr que mais encontra á mão!

Lá vae tudo a correr: são as grotescas dansas
D'uns velhos animaes que já foram crueis
E agora vão soffrendo os risos das creanças
E os apupos da turba a troco de dez réis.

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