Poder Amar Sem Poder
Autor: André Claro on Saturday, 25 November 2017
O Poder de amar até tenho,
Mas isso já não é negócio,
Amo o quanto posso,
Sem precisar que me paguem pra ver.
Agora amo de verdade,
Mesmo se amo sem poder.
O Poder de amar até tenho,
Mas isso já não é negócio,
Amo o quanto posso,
Sem precisar que me paguem pra ver.
Agora amo de verdade,
Mesmo se amo sem poder.
Sou escravo da palavra, Mesmo se escrevo Tentando dominá-las. Antes de concebidas, Já me ordenam a trabalhar Forçado. Para construir-lhes um poema
Corvo, corvo negro,
Da cor dos meus cabelos,
Voa para longe
Com o alforje do meu desejo
Deixa-me renunciado
Como quem coisa alguma quer
Nem do inferno
Nem do céu
Como alguém que
Tem coragem de ser
Aquilo que nada é
Um engano, porque se sou
O que não era há pouco,
Mesmo que não queira,
Algo eu me tornei de novo
E a outro desejo serei entregue
Para que o corvo atenda a meu apelo,
Ainda que eu já não leve
A mesma cor nos cabelos.
Olhando-me agora
Como uma peça airosa,
Com cheiro de tulipas, não de rosas.
Oh, parece a Bossa nossa!
Olhando-me onde mesmo?
Nalgum espelho que se esconde?
E outra: não importa também
Se flores, rosa, tulipa, não temos,
Nada.
Só é curioso o que traz essa fragrância
Que me faz espreguiçar de tanta paz.
Mas sei bem onde me vendo estou,
Fingindo o filósofo na encruzilhada
Entre a esquina do teu repouso
Com a rua da minha calma.
Olhando-me agora
Como uma peça desairosa,
Com cheiro de tulipas, não de rosas.
Ah, para, nossa!
O verbo que se vive
É particípio do que nos move.
Até a conjugação de vida
Que se duvida
Do modo de outros homens,
Não se determina só pelo tempo,
Também por suas vozes.
E o que é mais importante
Para as pessoas singulares ou pluralistas
Do que a felicidade?
E para não ser muito adjetivo
Ou sindético, a felicidade plena
É aquela entranhada até os ossos.
E estranha-se quando a tristeza,
Que tem nada de subordinada,
Salta adversativa aos nossos olhos,
Não acha meio de partir,
Fica sintaticamente inamovível
Um furo na parede,
Por onde os outros
Veem a gente
Fazendo coisas
Que só quem está de fora
Surpreende-se.
A melancolia do meu velho
Amigo Atílio,
Que há 20 anos espera
Uma visita do filho.
A dona Marta
Que só fala duas palavras
O tempo inteirinho,
E a enfermeira que me lava
Como seu eu fosse um
Recém-nascido.
Saiba que eu sei que você
Nos espia por esse buraco lírico
Porque prevê e tem medo
De que seu dia chegue cínico.
A vida ensaie seu perecimento,
A morte se apresente saindo dos cueiros,
Assim que você adentrar
Ter sentimento nenhum,
É um abuso para quem
Sedimenta-se no afeto,
Um luxo para os broncos
Que não são afeitos
Nem a um abraço fraterno.
Porque falas, amiga, dos dias cinzentos?
Todo o homem é uma incógnita viagem!
Deixa fluir a sombra que desgosta...
O sol sempre a sorrir também é tédio.
Nem sempre o que não temos é tristeza
e o pranto das nuvens pode ser consolo.
O segredo está na chuva que cai,
no seu chorar cantante, transparente ,
nessa voz que no silêncio chama,
nesse íntimo sentir que tens dentro do peito.
Isa Sousa/2017
O tempo se despoja de minha espera,
Faz troça da minha paciência
Tiquetaqueando, me condena,
Revela-me sua perene onomatopeia.
Aguarda-me sem pressa,
Como quem apenas me observa.
Mas sei que dele dependo,
Que no fim vou carecer de tempo.
O tempo todo de nenhum momento esperado.
O mesmo tempo que me sobra
Apenas quando não o tenho,
Pois se o tenho, ele já me falta.